terça-feira, 29 de junho de 2010

SÍNDROME DA OFICINA - POR PAULO CILAS


Pensei muito se deveria escrever sobre esta síndrome. Em parte pela minha dificuldade em colocar em palavras aquilo que falando me é mais fácil, até mesmo para explicar meandros e minúcias. Depois, porque tal "síndrome" tem um apelo forte de coisa totalmente certa e eficaz. Mas, vamos a ela.

Chamo de síndrome da oficina o fato da "igreja ter se tornado um lugar de ferramentas. É um tal de ferramenta para ler a Bíblia - outro dia "num" stand de livros e bíblias fiz uma brincadeira com o consultor( antigamente era vendedor e hoje, consultor. Ferramenta nova!) Pois bem, ele me falava dos preços das mais diversas bíblias e havia uma diferença entre A BÍBLIA DA MULHER E A BÍBLIA DA MULHER QUE ORA. Era a mais legítima piada pronta. "A mulher que ora" era mais cara. Em matéria de bíblias temos ainda a surreal "da batalha espiritual e vitória financeira", coisa que seu idealizador tem tido bastante. Me refiro à segunda parte.
Mas, deixando bíblia de lado - e isto tem acontecido muito quando as ferramentas entram em campo- temos ainda as ferramentas para cura interior, finanças, namoro, casamento ou a falta dele, etc. Surgiu agora, fresquinha, uma tal de "ativação profética". Vai entender!!!
Bom, alguém a essa altura poderia me perguntar se eu sou contra tudo isto. Não, não sou contra a instrução para as mais diversas áreas de nossa vida. O problema é que no antropocentrismo cada vez mais dominante na "igreja"a necessidade maior e cada vez mais veloz e feroz é dar respostas prontas, mecanismos eficientes para que o homem se sinta bem, vença fácil. Só que na realidade, a vida não é assim. Nada é hermeticamente fechado. Tudo muda de repente e não adianta ficar criando ferramentas para resolver tudo.
Em seu livro "Famintos por mais de Jesus" David Wilkerson narra um diálogo dele com uma senhora que não via mais saída para a fazenda da família que jazia à falência e ele, homem de muitas experiências com Deus, simplesmente responde: "irmã, sente-se e coma do que O Senhor põe a mesa!
Em outro livro, "Quando Deus não faz sentido", James Dobson argumenta contra a mania que temos de tentar explicar tudo. Ora, basta ver as palavras de Deus para Jó e seus amigos que não adianta ao homem tentar formatar as ações de Deus usando ferramentas como em uma linha de produção. Ele, Dobson, faz menção de um casal que acabara de perder sua filhinha e ouve de alguém que Deus colheu "a florzinha" para plantar em seu jardim por era formosa demais. Em outro momento, cita a dura realidade de um Pregador de cura e libertação que, ao ver sua filha acometida de um câncer na perna que tem de ser amputada antes que o joelho seja atingido dificultando uma prótese mais tarde, pergunta a Deus: Como eu vou pregar agora que O Senhor tem poder?
Em dramas terríveis mostrados na Bíblia as respostas são: "O Senhor deu, O Senhor tirou. Bendito seja O Senhor"! Ou ainda: "Quer vivamos, quer morramos. Somos do Senhor"! Ou ainda: "As breves e momentâneas tribulações não podem ser comparadas com a GLÓRIA".
Enquanto corremos atrás de ferramentas para tudo vamos nos esquecendo de crescer como gente , como crentes e viramos dementes.
Ouvir de um moço que está cansado de ver filminhos e outras apresentações nos cultos de sua igreja: "Os mesmos só tratam de um método importado que a tem transformado em uma empresa de sucesso". Alienação completa com as ferramentas de marketing prometendo vida sem sustos. Crentes autômatos que fogem de suas próprias almas para não serem taxados de fracassadas ou rebeldes.
Uma vez fui visitar um senhor internado em uma casa de repouso psiquiátrico. Depois de alguns minutos com ele veio uma diretora da casa. Identificando-se como crente, me chamou à parte e depois de falar brevemente sobre o paciente em questão passou a falar de sua vida. Destilou aos meus ouvidos não comprometidos com a convivência diária com ela, tudo que não podia falar aos seus líderes e irmãos de caminhada. E isto, pelo simples fato de ser sua igreja mais uma dessas que alardeiam ter resposta para tudo, onde são feitas declarações triunfalistas e se é sonegado o direito de chorar e de ser amparado. De confessar e ser acolhido com misericórdia e graça.
Fico com Eugene Peterson - autor do ótimo " Transpondo Muralhas" entre outros igualmente ótimos- quando diz: " Tratar a alma é trabalhoso, demanda tempo". Já Ricardo Gondim diz: "Somos feitos de luzes e sombras. Conseguimos ser excelentes e ordinários"!
Vejo "a igreja" usando suas ferramentas em dois segmentos, principalmente:
SEGMENTO EMPRESARIAL- Estratégias de agradar a clientela determinando até o perfil do público alvo. Boas apresentações nos cultos, mensagens motivacionais e de auto-ajuda. Dinheiro e sucesso.
SEGMENTO MÍSTICO - O mundo espiritual virou uma realidade paralela com crendices e termos estranhos, mas, dotados de uma pompa tal que ai de quem disser que não entende.
Eu, por exemplo nunca entendi o que quer dizer "adoração profética,unção do leão, jogar óleo de avião para ungir a cidade. E enquanto o pessoal fica declarando: O Brasil ,ou qualquer cidade, é do Senhor Jesus e por isso temos de dominá-lo(as), O SENHOR DECLARA: O MUNDO JAZ NO MALÍGNO E O PRÍNCIPE DELE É SATANÁS !
E tome ferramenta para dominar o mundo. E, enquanto o crente fica aprendendo a usar a mais nova lançada no mercado - do marketing ou espiritual- deixa de ser luz neste mundo de trevas.
Deixa de pregar a graça salvadora e a vida eterna dada em Cristo na Cruz:
DERRADEIRA FERRAMENTA!!!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

SÍNDROME DA VACA LEITERA - POR PAULO CILAS


Aproveitando o espírito da copa menciono a frase de um comentarista esportivo sobre um goleiro que, depois de diversas defesas dificílimas, engole um frangaço: " Ele deu uma de vaca holandesa. Deu 30 litros e depois chutou o balde!"

Mas, vamos sair "do campo" e entrar no ônibus: Dois membros de uma mesma igreja no passado
agora se encontram num "coletivo". O mais jovem pergunta ao mais experiente - é assim que se chama o mais velho de velho, viu?- : " E ai, você continua membro da igreja ..."? A resposta veio amargurada: "Não, cansei de levar a igreja nas costas"! ATENÇÃO!! Nunca converse sobre igreja dentro de coletivos. É constrangedor.
Pois bem, aquele homem da resposta amargurada tinha trabalhado, vivido sua juventude no seio da igreja em questão e depois de anos o que ele tem é... nada. Só uma sensação de que perdeu tempo. Canseira e enfado. Era como se toda sua produção tivesse sido derramada por terra.
A pergunta obrigatória é: Para quem fazemos, afinal? Se é sabido que está aumentando exponencialmente o número de desgastados, frustrados, sugados e outros "ados" dentro - e agora fora - da igreja, temos de questionar onde está firmada a nossa fé!
Paulo afirma que nosso trabalho "não é vão no Senhor". Ou seja, ele sempre é producente. O próprio Paulo, mesmo tendo sido perseguidor dos crentes segundo suas convicções, não desprezou o que aprendeu com Gamaliel e enxerga com clareza que a lei que seguia foi condutora para o perfeito entendimento da Graça de Cristo. Não chutou o balde!
Nós não ignoramos os dominadores de mentes e almas existentes- principalmente nos dias atuais- que fazem com que mais e mais pessoas lhes sirvam sob o "signo da obra de Deus". Entretanto, penso que a maioria desses seguidores não são inocentes. " Muitos constituem líderes sobre si por causa dos seus próprios desejos".
Mas, já está passando da hora de sabermos que não trabalhamos para igrejas de homens. Que não devemos buscar recompensas terrenas e se "alguma glória há, que seja na Cruz de Cristo." Alias, já é passada a hora de entendermos que não realizamos a Obra do Senhor, e, sim, é O Senhor que realiza sua Obra. E nós fazemos parte dela. Ou melhor, nós somos A Obra de Deus!
Acordemos pois. Sabemos que ao longo da caminhada temos desacertos, birra tipo Paulo e Barnabé por causa de Marcos. Sabemos que há Himeneu, Fileto, Diotrefes entre outros que causam dores. Contudo, nenhum deles jamais será capaz de apagar o cântico triunfal, a melodia quebrantadora, a palavra pregada ao pecador. Nenhum homem , seja ele pastor ou qualquer outro líder, pode me roubar a alegria de ter ido à igreja, de continuar indo. Até porque, não levo a igreja nas costas. Quem a sustenta é O Seu Senhor, se de fato ela, a igreja, lhe pertencer. E eu?
Eu amarei a mensagem da Cruz até por uma coroa trocar.
Saibamos disso hoje. Porque depois, não adiantará chorar pelo leite derramado.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

SÍNDROME DO MORRO - POR PAULO CILAS

Nasci e cresci no morro . E as dificuldades de estar "por cima" eram compensadas pela paisagem. Ao entardecer era possível ver o braço de mar com as águas avermelhadas pelos fulgidios raios de sol. Bela visão! Então, até compreendo quando moradores de um certo morro de uma grande cidade rejeitaram a oferta de morarem em lugar de melhor acesso e estrutura. Não queriam perder a bela vista lá do alto.
Séculos atrás, em um país distante, Pedro também relutava em descer do morro. Ele estava vendo algo deslumbrante. Nada mais, nada menos que Elias e Moisés ladeando Jesus. "Não saio deste morro de jeito nenhum! Eu? Voltar para ficar perto do Iscariotes, a multidão que aperta, os ameaçadores soldados romanos. Sem contar os fariseus hipócritas. Vamos armar a barraca!!!
Além do mais, ficando aqui não corro risco de negar meu mestre, de fazer acepção entre gentios e judeus,etc,etc,etc. Isso, sem falar que no futuro não passarei um "carão"pagando o maior mico ao ser repreendido pelo chato do Paulo. Aliás, quem ele pensa que é? Eu é que "to"vendo isso aqui! E aqui, sem chance de Elias se enfurnar na caverna e Moisés se irritar com a pedra"!
Assim é a síndrome do morro. Quem dela é acometido basta ver algo místico que logo quer transformar sua vida num" misticismo sem fim. Cada culto tem que ter algo extraordinário. E o que não falta é gente para produzir isso. É lei do Cada enxadada, uma minhoca segundo um jargão interiorano. O culto racional passa a ser frio demais. Já não basta uma adoração em ESPÍRITO E EM VERDADE sem dependência do morro, seja ele em Samaria ou Jerusalém. Pregar a palavra em todo tempo, então? Tendo paciência para ensiná-la , suportar os fracos, lidar com com os ingratos, errar e ser corrigido, "sofrer os maus"... Enfim, descer. E, descer?? É "ruuuim", heim!
Definindo em uma frase o pessoal que tem essa síndrome: morro, mas não deixo o morro!

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...