terça-feira, 25 de outubro de 2011

VAZIO PERIGOSO - POR RICARDO GONDIM



Sucessivos terremotos sacodem o mundo econômico e político. Malucos se estouram e explodem os demais por todos os lados. Há uma carência desesperada de segurança. As portas dos asilos parecem ter se escancarado. O mundo endoidou de vez.

Faltam heróis. O cenário parece pronto para o surgimento de algum messias. Um déjà vu maligno espreita a humanidade no perigo de guindar um doido varrido para algum posto de comando, como aconteceu na véspera da Segunda Guerra. Se chegar um fanfarrão que saiba oferecer sensação de controle, ganhará reconhecimento imediato.

Abriu-se a brecha para revolucionários de última hora encantarem multidões. Quem ousar, mesmo um populista sem vergonha, arrebata as massas. Um tirano que pareça desafiar o status quo será reverenciado sem grandes dificuldades. Enormes marchas aclamarão quem parecer com as rédeas nas mãos. O ego inflado de algum demagogo será massageado sem muito critério se ele apresentar soluções. Ficou fácil canonizar opiniões formatadas e surradas de qualquer caudilho corajoso de quinta categoria. Se parecer altivo, vícios, erros e estupidez, ficarão varridos sob os carpetes da eficiência. No prado da mediocridade, o especialista sempre se sobressai.

O perigo religioso também se tornou agudo. Na aridez do consumismo materialista, o porta-voz da divindade se agiganta. Basta um pouco de manipulação para que saiba fazer acreditar que resistir ao sacerdote significa resistir a Deus e que, obedecer os comandos do ungido, é obedecer aos comandos celestiais.

O campo anda fértil para farsantes competentes. O falso caridoso é bem sucedido em esconder seu egoísmo com choros. O santarrão comove com seu discurso meloso. O pseudo-casto, o prosaico beato de coração caiado, camufla sua torpeza com interjeições escandalosas contra a imoralidade. O avarento, o ganancioso, sabe discursar sobre a graça de contribuir e repartir.

Sim, os tempos estão sombrios. Resta acreditar no poder residual do bem. Se uma fagulha incendeia a floresta, esperemos que um tracinho de bondade resista a tudo isso. Esperemos que mansidão, antítese do abuso de poder, germine um novo amanhã, e que gentileza, irmã da graça, substitua a arrogância como marca da espiritualidade. Simplicidade pode, sim, estancar o avanço da prepotência, que transforma homens e mulheres em demônios.

O futuro depende de carisma não prevalecer acima de caráter, e de clichês não dissimularem empáfia. A humanidade aguarda a verdadeira espiritualidade se sobrepondo à competência; e que a próxima geração não se acomode na ingenuidade típica dos rebanhos. Mas que também não insista em repetir os erros que deixaram o mundo do jeito que está.

Soli Deo Gloria

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ENTRE REPETIR E SURPREENDER - POR RICARDO AGRESTE


No anseio por ser lido, ouvido, comentado e seguido, muitos podem ser tentados a gerar fatos, escrever o surpreendente ou afirmar o não convencional.
Há pouco tempo, eu estava numa conferência fora do país quando um dos preletores fez uma afirmação que me despertou do sono. Ele disse: “Vivemos um momento histórico em que pastores e líderes, com o propósito de serem ouvidos, lidos e, principalmente, comentados, estão se tornando reféns da necessidade de surpreender, escrevendo e posicionando-se de maneira pouco convencional.”

Existe hoje no contexto norte-americano uma verdadeira disputa entre celebridades do meio evangélico por atenção e influência sobre as pessoas. Essa disputa se evidencia nas afirmações bombásticas que circulam em vídeos no youtube, nas ideias pouco convencionais veiculadas nos blogs da vida ou, ainda, pelas respostas agressivas e contundentes àqueles que são os agentes das duas primeiras ações.

Como se pode perceber, o fenômeno está diretamente ligado à grande revolução midiática ocorrida nos últimos anos em nossa sociedade. Há 30 ou 40 anos, para um pastor ou líder ser ouvido e comentado, era necessário investir pesado na produção e veiculação de programas de rádio ou TV. No entanto, a internet democratizou a possibilidade de ser ouvido, comentado e acompanhado até em cada passo ou palavra.

Assim, para muitos pastores e líderes da atualidade, a internet se tornou um espaço onde suas palavras ganham uma amplitude nunca antes sonhada. Ali, seus textos são lidos e replicados de forma ilimitada, e suas ideias, seguidas e comentadas quase que instantaneamente por pessoas em todas as partes do mundo. Assim, o horizonte de sua influência passou a transcender em muito o pequeno grupo que, assentado nos bancos da igreja, escuta atentamente seu sermão de domingo.

De certa forma, este cenário representa uma grande oportunidade para evangelização de inúmeras pessoas, para a edificação de discípulos de Jesus espalhados por todo o mundo e para o fortalecimento da igreja numa caminhada saudável e dinâmica. É um grande privilégio para os cristãos de nosso tempo ter à sua disposição um sem-número de sermões, estudos, artigos, discussões e opiniões sobre os mais variados temas, dos mais diferentes autores.

Por outro lado, o mesmo cenário gera uma cultura de ansiedade por ser lido, ouvido, comentado e seguido. Neste anseio, aqueles que fazem uso das novas mídias podem ser constantemente tentados a gerar fatos, escrever o surpreendente ou afirmar o não convencional. Assim, surgem afirmações de que o inferno não existe, de que Deus não é soberano ou que a volta de Jesus é não um evento histórico – e, para não perder a oportunidade de ser lido e comentado, rapidamente surgem as críticas àqueles que fazem tais afirmações, sem qualquer cuidado com o contexto ou o respeito devido a quem pensa de modo diferente.

Em meio a tudo isso, existe o perigo de que pastores e líderes, responsáveis por prover o conteúdo para o ensino e capacitação de discípulos de Cristo, se esqueçam que boa parte de sua tarefa como mestres consiste em repetir. Pastores e mestres do passado gastaram boa parte de suas vidas e ministérios simplesmente repetindo coisas, sem se sentir na responsabilidade de falar algo novo, surpreendente ou espetacular. Eles simplesmente repetiam o que já fora dito na lei e nos profetas, bem como procuravam manter vivos os fundamentos lançados pelos apóstolos.

Mas também existe o perigo de que cristãos usuários das novas mídias não percebam que a própria cultura que envolve tais ferramentas não incentiva a repetição, pois demanda o novo. Assim, os crentes podem se tornar dependentes dessa cultura, esquecendo-se de que parte de nossa consistência e saúde na caminhada cristã envolve a prática de acolher as verdades que já eram verdades para nossos avós e de ouvir novamente o que já foi dito, tantas outras vezes ao longo dos séculos, a outras gerações.

Como pastores e líderes, precisamos estar atentos e nos avaliar sempre acerca do uso que temos feito das novas mídias e da motivação que nos move. Precisamos reconhecer que a linha entre o desejo de simplesmente servir à Igreja de Jesus e a vontade de ser lido, ouvido e comentado é tênue no contexto atual. Todavia, como usuários das novas mídias, precisamos também nos perguntar se aqueles a quem ouvimos, lemos e seguimos estão se tornando reféns do novo ou do espetacular. Estão eles deixando de lado a missão de simplesmente repetir o que já foi dito na lei, nos profetas, pelos apóstolos e pais da igreja? E, se eles passarem a repetir, estaremos dispostos a ler blogs e seguir twitters que só repetem o que já foi dito, sem qualquer surpresa?

Extraido De "Cristianismo Hoje"

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CAMINHO, VERDADE E VIDA - POR PAULO CILAS


O CAMINHO

"Mostra-nos o Caminho". Diríamos ser essa uma declaração de alguém realmente interessado, mas, vindo de um discípulo que há mais de dois anos andava e ouvia a Jesus, mostra a falta de um entendimento completo de quem Cristo era. Contudo, a palavra do tal discipulo acaba nos servindo de alerta, mostrando que é possível, ainda hoje, caminhar com Jesus, ouvir de Jesus, e não entender ser Ele o caminho e não leis, sistema sacerdotal antigo, campanhas, "mandigas" gospel. Isso é tão importante, tão fundamental, que o desconhecimento gera inseguranças, incertezas, neuroses, como a seguinte: Estávamos num restaurante e um moço que eu acabara de conhecer, depois de se servir, vasculhava o feijão para ver se ali havia pedaços de bacon (carne de porco) e não satisfeito ainda chamou o garçom para perguntar se tinha e diante da resposta "sim" ficou totalmente transtornado, pois obviamente a sua religião tinha o comer ou o não carne carne de porco como... o caminho. Ou seja, cumprir regras se torna todo ou parte do caminho que se pretende seguir.

Quando Jesus responde ao discipulo "Você está há tanto comigo e ainda não me conhece?" é o que chama atenção. Meu Deus! Será que ouvindo o evangelho não conseguimos nos desvencilhar dos pesos, fardos, embaraços, entendendo o propósito amplo de Jesus?

A VERDADE

Jesus não diz ser a Verdade porque fala verdades e sim porque toda a verdade humana e toda a verdade de Deus se cumpre Nele. Religiões cristãs, ou não, professam alguma coisa verdadeira, pode ser até aquela que consideramos a pior religião, ou a mais estranha, mas até ela, em algum momento, fala alguma verdade. Mas seguir a Jesus não é seguir àqueles que falam algumas verdades. Seguir a Jesus é entender que a verdade de Deus:"todos pecaram e destituídos foram da sua glória e por Jesus fomos reconciliados com Ele" e que todo homem é pecador e não há religião alguma, por mais bem intencionada que seja, que possa dizer ter a verdade.

A Verdade é plenamente convergida em Jesus, quando Ele não só revela o pecado do homem, mas também, o perdão e a misericórdia para o mesmo. Quando Ele morre na cruz cumprindo a justiça de Deus: "ao Senhor agradou moê-lo".

A VIDA

Não pode o ramo viver longe da árvore. Daí Jesus dizer que Ele é a Videira verdadeira, fora dEle só se existe por um pouco de tempo, pois a morte já está decretada. Jesus não é então uma opção de vida, Ele é a opção à morte. Costumamos confundir e ter Jesus como um meio de alcançarmos aquilo que desejamos, e normalmente o que desejamos é aqui debaixo. E vamos nos esquecendo "que o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Jesus". Vida que não morre, mas que vence a morte. Vida que não é sinônimo de existência. É a Vida que só faz sentido porque permanece de eternidade a eternidade.

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...