terça-feira, 31 de janeiro de 2012

AS BEM-AVENTURANÇAS DOS PASTORES "IDIOTAS" - GEREMIAS DO COUTO



Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", quando fordes xingados com este epíteto simplesmente por acreditardes no que disse Jesus: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e onde os ladrões minam e roubam" (Mateus 6.9). Tal ato insano, ao invés de vos maldizer, mostra que ainda estais firmes na verdade.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que não sucumbistes aos "encantos" da teologia da prosperidade por compreender que "os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína" (1 Timóteo 6.9). Não vos entristeçais, nem penseis que estais sozinhos. Há muitos outros "idiotas" convosco, inclusive o apóstolo Paulo.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", por não vos curvardes aos arautos que vos maltratam em virtude de crerdes que aos ricos deste mundo a Palavra de Deus ordena: "Não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas" (1 Timóteo 6.7). Tal maldição é, na verdade, um reconhecimento de que pondes a vossa confiança não nas riquezas desta vida, mas na abundância que vos é dada para a glória de Deus.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que resistis aos apelos dos que vos querem enredar com o brilho do ouro que perece, porque vós bem sabeis que é vosso dever continuardes a ensinar às suas ovelhas "que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis" (1 Timóteo 6.18). Saibais que outros "pastores idiotas" iguais a vós foram já recebidos na glória e aguardam o precioso galardão.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", porque não perdestes a visão da semeadura e, por isso mesmo, sabeis que não se ganham almas com o glamour das riquezas humanas, mas com a sementeira do evangelho. Sem esquecerdes da advertência da parábola do semeador, que diz: "Os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera" (Mateus 13.22).

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", por não perfilardes o triunfalismo da pregação humanista, centrada no homem, que enriquece a quem prega e defrauda a quem ouve. Ainda que vos pareça estardes "fora do modelo contemporâneo", alegrai-vos porque continuais apegados ao modelo bíblico, que diz: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gálatas 6.14).

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que embora injuriados pela vossa pregação "arcaica", ainda carregais no bolso do vosso coração a credencial de servo do Altíssimo, enquanto alguns já a trocaram pelas credenciais de semideus, arrogante e soberbo e usam-na ao sabor das circunstâncias para se locupletarem em cima da lã de suas ovelhas.

Bem-aventurados sóis vós, "pastores idiotas", que, enquanto alguns voam os céus do mundo em modernos jatinhos, trafegam as grandes avenidas em luzentes automóveis e se deleitam nos mármores de grandes mansões, o vosso prazer é estar junto das ovelhas, alegrardes com elas e, se preciso for, dar por elas a vossa própria vida. Não vos esqueçais que outros "idiotas" iguais a vós se encontram já no Reino do Pai.


Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que preferis o "prejuízo" da coerência, da fidelidade a toda prova aos princípios imutáveis da Palavra de Deus, do que sucumbirdes - ainda que tentados - às lentilhas que se vos oferecem para amenizar eventuais necessidades imediatas. Mais vale o pão dormido da consciência tranquila do que os banquetes da consciência aprisionada.


Bem-aventurado sois vós, "pastores idiotas", pelo modo como sois tratados por amor do nome do Senhor e por não vos enredardes pelo brilho passageiro da glória humana. Não sois melhores por isso, mas também não sois piores. Todavia, enchei o vosso coração de alegria porque o vosso nome faz parte da galeria dos heróis da fé que professam somente a Cristo e têm Deus como o bem maior da vida. Tende como lema o que Paulo ensinou: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" (Filipenses 4.4).

Assina um "idiota" como todos vós.


No blog do autor. Divulgação Genizah

UMA IGREJA VERDADEIRAMENTE PRÓSPERA -Fonte: Revista Ensinador Cristão, Ano 13, Nr. 49, Jan-Mar 2012.

Que parâmetros podem ser utilizados para que uma igreja seja avaliada como próspera nos moldes bíblicos, e não pela teologia da prosperidade?

É uma igreja equilibrada. Uma igreja próspera não pende nem para pregar a teologia da prosperidade nem a teologia da miséria. É uma congregação que sabe motivar seus membros a trabalharem, a confiarem em Deus e a contribuírem para que todos tenham o necessário para sua subsistência. O equilíbrio dessa igreja faz com que ela entenda que pobreza não é sinal de maldição de Deus, nem que a riqueza é necessariamente um sinal da bênção de Deus (muitos ricos, crentes, burlam o fisco com declarações falsas e ainda contam esses fatos como vitórias que Deus lhes concedeu. Esquecem-se do A César o que é de César...).

É uma igreja aberta às necessidades de seus membros. "Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre" (Mt 26.11). Jesus não desfez dos pobres, e deixou claro que eles sempre existiriam. Uma igreja próspera não despreza aqueles que tem poucos recursos em detrimento dos que tem muito: "se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores" (Tg 2.9). Uma igreja próspera é consciente de que não pode desprezar seus pobres, e que deve assistilos, como o fizeram a Igreja em Jerusalém (nos dias dos apóstolos, as viúvas dos gregos reclamaram que estavam sendo preteridas na distribuição dos recursos ofertados, e nesse momento foi instituído o diaconato, a fim de que houvesse equilíbrio na distribuição dos recursos) e as igrejas dos macedônios (uma comunidade de igrejas compostas de pessoas predominantemente pobres, e que precisavam de ajuda financeira, mas que por terem se dado primeiramente ao Senhor, abriram mão do pouco que tinham para cooperar com os crentes em Jerusalém - 2 Co 8).

É uma igreja que não se esquece de partilhar seus recursos para a obra de Deus. Muito se pode fazer por meio de ofertas missionárias e outras manifestações de generosidade para com a obra de Deus. Há igrejas em nossos dias que pagam altas somas de dinheiro para que um artista venha ao templo, cante três músicas e vá embora sem permanecer ou participar do culto. Curiosamente falando, raramente essas igrejas demonstram o mesmo grau de generosidade para financiar um curso teológico para um obreiro que deseja se capacitar, e raramente enviam ofertas missionárias a obreiros que estão em tempo integral evangelizando e pregando o evangelho. Uma igreja próspera investe no Reino, na divulgação do evangelho e na preparação de obreiros que servirão a Senhor.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

TEM EVANGÉLICO QUE DÁ MEDO - MARCELO LEMOS


Tem evangélico que dá medo...

Hoje encontrei uma matéria triste no Genizah. Na verdade, dado o objetivo do site, sempre há algo triste para se ler. Talvez isso cause desconforto entre alguns, já que fazer apologia para dentro do Corpo, ou seja, denunciar os erros dos próprios evangélicos, sempre causa alguma dor. Dizer a um evangélico que ele errou é como lhe falar mal da mãe, pois parece que nos sentimos dotados de algum tipo de infabilidade quase papal. Mas, tenho uma matéria bem especifica em mente. Genizah publicou uma foto medonha, na qual um grupo de adolescentes evangélicos aparece zombando de um presépio. Essa foto, que parece tão piedosa em seu intento, me fala de ignorância, intolerância e presunção.

Já leu a matéria?

Primeiro a presunção. No céu não haverá apenas cristãos, me parece que na mentalidade dos evangélicos as ruas celestiais serão povoadas apenas pelos evangélicos e, em muitos casos, por evangélicos denominacionais. Não basta ser cristão, é preciso ser evangélico; porém, ser apenas evangélico não é suficiente, para ter mais chances, é necessário ser evangélico de certo tipo. Qual tipo? Alguns parecem imaginar que o céu será dos assembleianos, dos batistas, outros que será exclusivo para os reformados... Essa mentalidade denominacionalista é perversa. Em primeiro lugar perverte o cristianismo. Em segundo lugar nos torna monstros. O personagem principal do livro Os Fantoches de Deus, de Morris West, chega à conclusão de que era demasiadamente duro ao julgar os outros cristãos, e mais propenso à caridade quando se deparava com erros em sua “família religiosa” (ele, no caso, um católico romano piedoso). É um risco que corremos, de achar que nossa tradição nos faz melhores que os outros, e assim confundimos as nossas tradições com a essência mesma do Cristianismo. Pode até ser que nossas tradições denominacionais sejam melhores, mais adequadas, ou até mesmo mais bíblicas. Porém, isso não nos faz melhores que nossos semelhantes. Não importa o quanto nossa tradição é bela, ou bíblica, continuamos sendo pecadores carentes da Graça de Deus, como todos os demais. Somos salvos pelas nossas tradições (pentecostalismo, credobatismo, salmodia exclusiva, etc), ou pela fé em Nosso Senhor Jesus Cristo?

Depois vem a ignorância e a intolerância. Essas duas andam quase sempre juntas. E, juntas, podem levar ao fanatismo. Para mim, um fanático é alguém cego, exceto para ver suas próprias qualidades, ou as qualidades de sua ideologia, sejam elas reais ou imaginadas. Por outro lado, o fanático é incapaz de ver os seus próprios erros, sempre arrumando alguma desculpa piedosa para seus deslizes e abusos (que certos evangélicos famosos não me deixem mentir, risos).

Recentemente tenho dedicado boa parte do meu pouco tempo ‘livre’ para colocar na rede uma TV online, que denominamos Basileia Tv. ‘Basileia’ é um nome muito apropriado, pois no grego significa “o reino”. O objetivo do nosso ministério é promover o reino, seja através da nossa pregação, evangelismo, ou no que fazemos na internet. Sendo um calvinista, alguém já questionou como eu poderia transmitir musicas de ‘pentecostal’, ou mesmo com algumas letras ‘arminianas’? Ou ainda pior: sendo um evangélico, como eu posso ter colocado na grade musical um ou duas musicas ‘católicas’? Minha resposta é bem simples, e não espero que todos concordem comigo: o Reino de Deus não pertence aos calvinistas, reformados e evangélicos. O Reino de Deus pertence aos cristãos. Em outras palavras, antes de ser calvinista, antes de ser anglicano, antes de ser reformado, sou um Cristão; antes das minhas tradições pessoais, Cristo! Evidentemente eu me guio por certos limites, mas isso não me faz cego para aquilo que há de belo nas outras tradições cristãs, mesmo que eu não concorde inteiramente com elas.

Por falar em presépio, no Natal passado, eu passei muitos minutos contemplando um maravilhoso presépio que foi montado em frente à Catedral da Sé, em São Paulo. Era um presépio maravilhoso, não só pelo tamanho, mas pelo material de que foi feito: papel reciclado. Ali, no coração de São Paulo, onde todos os dias a gente se depara com prostitutas, drogados, trombadinhas, e os ‘shows’ mais bizarros, por alguns dias, quase todos os olhares voltaram-se para a mensagem da Graça. Não me importa se aquele cenário da Graça foi montado por um católico romano, admirei o simples fato de ele estar ali, e de estar comovendo as pessoas. No entanto, boa parte dos evangélicos com os quais convivo, não apenas pareciam desejar que o tal presépio fosse consumido pelas chamas da Ira de Deus, como também desdenhavam aberta e publicamente da própria celebração do Natal! São em momentos assim que, apesar de saber que não há nada de errado com o termo, faço questão de dizer que “não sou evangélico”.

Entretanto, esse tipo de mentalidade bairrista não existe apenas em círculos pentecostais ou neo-pentecostais. Vejo isso por todos os lados. Dias desses, num debate teológico numa rede social, me surpreendi quando um “reformado” escreveu para um líder anglicano: “Cara, primeiro você vai tirar esse ídolo do seu perfil, arrepender-se de sua idolatria, para só depois eu conversar com você!”. Vejam, o “reformado” recusa-se a responder aos argumentos do outro, pelo simples fato de que este usava em seu perfil uma representação de Cristo usando um computador da Apple! A imagem, apenas uma representação artística e bem humorada, foi automaticamente identificada pelo outro como “ídolo” e “idolatria”! Isso é pura e simples cegueira! O fariseu sequer se deu ao trabalho de pesquisar o que é um “ídolo”, e muito menos o que caracteriza “idolatria”. Ele apenas viu uma representação de Cristo, e uma ira fanática o impeliu a gritar: Ídolo! Idolatria!

Eu gostaria de escrever tantas coisas a vocês! Termino com duas observações: não defendo aquilo que muitos chamam de “ecumenismo”, no sentido de unir todas as Igrejas, e deixando de lado a apologética, e a defesa da fé. Não se trata disso. Não quer dizer que eu não ‘brigue’ com católicos romanos, ou com arminiamos, sobre este ou aquele ponto de vista teológico. Que quer dizer então? Apenas isso: que apesar de nossas diferenças, a Salvação é pela Graça de Deus, ela é um dom imerecido, o que torna impossível sermos salvos por nossas opiniões e tradições! E tão importante quanto isso é dedicarmos algum tempo a conhecer melhor a história da Igreja, e a nossa surpreendente variedade e diversidade.

Parece-me estranho ver alguns pentecostais imaginando que o Cristianismo nasceu em Azuza Street, e alguns outros pensarem que isso de seu em Genebra... Amigos, nossa religião nasceu no primeiro presépio da História, com personagens de carne e osso, num casebre humilde em Belém. Hoje, quando vejo um presépio, com Jose, Jesus, os Magos e a Virgem, não sou tomado por qualquer impulso idolatra! Apenas olho e penso: Graça Maravilhosa, porque o Verbo se fez carne, e fez morada entre nós!



Marcelo Lemos, editor do Olhar Reformado, líder da Comunidade Anglicana Carisma, e colaborador do Genizah.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PEIXES GRANDES E PEQUENOS - ED RENÉ KIVITZ

Na esteira do pensamento paralelo de Dostoiévski, que afirma que, se Deus não existe, tudo é permitido, podemos dizer também que a pluralidade de deuses conspira contra a unidade do ser. A ausência de Deus tira do universo e da humanidade seu fundamento moral. Caso tudo quanto exista seja apenas e tão somente a matéria, a substância originária e permanente de toda a realidade, podemos viver como os peixes grandes que devoram os peixes pequenos.

Quem deseja tomar a natureza como padrão para a organização social não tem razões para dar de comer a quem tem fome. O popular já expressou sua sabedoria egoísta: quanto menos somos, melhor passamos. Deixem morrer os pobres, que desapareçam as populações da periferia do mundo, assim teremos mais água, mais petróleo, mais condições de sustentabilidade para o mundo, diminuído o número de seu maior predador, a saber, o bicho homem.

Apenas a nocão de Deus como ser moral oferece à humanidade o fundamento da solidariedade indiscriminada. Essa é uma das grandezas do relato bíblico da criação: em Adão, todos os seres humanos são um, pois sobre todos repousa a dignidade divina. Jesus ensinou que assim como todas as moedas são identificadas pela imagem de César, também todos os seres humanos são identificados pela imago Dei.

O fundamento ético do universo e da humanidade repousa no amor, expressão do ser divino que a tudo dá origem. Isso implica necessariamente a compreensão de que a correlação que liga o homem a seu semelhante se realiza na compreensão de uma correlação superior, a que liga o homem a Deus e Deus ao homem, cuja síntese se revela no Cristo, Deus feito homem, único mediador entre Deus e o homens.

Essas são algumas razões porque, assim como a negação de Deus, a pluralidade de deuses inviabiliza a unidade do ser. Sendo verdadeiro que a relação do homem com Deus se manifesta na relação do homem com seu próximo, é imprescindível a pergunta a respeito do caráter desse Deus, que normatiza a relação entre os homens.

Muitos deuses, muitas éticas. Muitas éticas equivale a éticas em conflito em busca de hegemonia. Como os deuses não brigam entre si, brigam seus representantes (ou se preferir, os deuses brigam entre si através de seus pretensos representantes). O monoteísmo cristão, que afirma a unidade de três pessoas numa única divindade, diz que Deus é amor, a comunhão harmônica e perfeita do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Qualquer Deus vestido com roupas diversas do amor é um ídolo, um falso Deus, um demônio. A dedução óbvia é que muitos deuses são artifícios para o surgimento de um único e outro deus que pretende rivalizar com o Deus vivo e verdadeiro. Esse outro deus atende pelo nome de ego humano, que, no caminho inverso do amor, mergulha para dentro de si na pretensão estúpida de afirmar a si mesmo como fundamento do universo e centro do mundo. A idolatria e a descrença, isto é, a afirmação de muitos deuses e a afirmação de Deus nenhum, são duas faces de uma mesma moeda: a absolutização do ego humano.

Uma vez que somente na relação com seu semelhante – com quem é um – o ser humano se realiza, e que somente Deus oferece o fundamento para a unidade da humanidade, toda negação do amor, que equivale ao afastamento do outro, equivale também à desintegração do ser. Em termos concretos, Deus nenhum e muitos deuses são uma e a mesma coisa.

domingo, 22 de janeiro de 2012

REVOLUÇÃO CULTURAL - POR ED RENE KIVITZ

Acabo de ouvir Zigmunt Bauman por 30 minutos, em entrevista concedida a Sílio Boccanera, para o Programa Milêmio, da GloboNews.

Dos interessantes comentários a respeito do que Bauman chama de “revolução cultural”, tive alguns insights. Na verdade, dois. E ambos parafraseando o “penso, logo existo” de Descartes. Vivemos dias de “devo, logo existo”.

Bauman disse que na sociedade capitalista quem não consome, não existe. Deixamos para trás a caderneta de poupança: “consiga o dinheiro e compre o que que quiser”, e migramos para o cartão de crédito: “compre o que quiser e depois consiga o dinheiro para pagar”.

O resultado dessa mudança de paradigma de consumo é a dívida. Mudou o ditado. Antes se dizia “quem não deve, não teme”, hoje se diz “quem não deve, não existe”, pois quem não deve não interessa aos donos do crédito. E quem não interessa aos donos do crédito está alijado da sociedade.

Além de “devo, logo existo”, vivemos dias de “sou visto, logo existo”. Essa é a versão imposta pela tirania das redes sociais. Quem não tem twitter, blog, facebook está fora do horizonte de convívio social, cada vez mais virtual. A vida on-line substituiu a vida off-line. Vai crescendo o número de pessoas que deixam de existir assim que fecham seus computadores e desligam seus smartphones.

Aliás, o mundo vai se enchendo de gente que jamais fecha o computador ou desliga o smartphone. Apavoradas com a possibilidades de não serem vistas, isto é, não receber comentários e recados no facebook, e não ver sua coluna de mentions do twitter crescer, as pessoas temem deixar de existir.

E Bauman conclui como somente os sábios: “não tenho capacidade nem conhecimento para avaliar o que isso significa nem como vai ser o futuro”. A entrevista se encerra com Bauman encolhendo os ombros e virando os beiços como quem diz “e agora, José?”.

fonte: Blog do Ed René Kivitz

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...