terça-feira, 10 de dezembro de 2013

FILHOS PARA O MUNDO - PAULO CILAS

Há muito tempo li uma contra- pergunta de uma frase muito conhecida: “Que mundo deixaremos para os nossos filhos?”. Tal frase era relacionada à preocupação com a Ecologia.  A contra-pergunta sugerida então, foi: “Que filhos deixaremos para o mundo?”.  Grande questão essa já que os filhos  tornam- se cada vez mais consumistas, egoístas, hedonistas de tal maneira que não adianta se preocupar ecologicamente com o mundo, pois,  ele continuará sofrendo nas mãos de quem o sujeita. Nós e, depois de nós, nossos filhos.
Precisamos cuidar e orientar melhor nossos filhos. Gustavo Ioschpe escrevendo na revista VEJA questiona se devemos ensinar a nossos filhos a ética pois, segundo ele falando ironicamente, se assim o fizermos deixaremos nossos rebentos em desvantagem diante dos “espertos” filhos dos outros.
Quem está disposto a preparar filhos melhores colocando-os em aparente desvantagem?  Eis uma  história ilustrativa: Um pai, trabalhando em seu escritório, era insistentemente incomodado pelo seu filho pequeno  que fazia de tudo pra chamar sua atenção. O pai, já irritado com a situação porque não conseguia terminar seu “importante” trabalho, viu uma maneira de ludibriar o menino; achou um mapa mundi com seus muitos países, recortou-o como um quebra cabeça e deu para o menino montar. Obviamente ele julgou que a criança demoraria e dificilmente conseguiria montar aqueles muitos países. Pronto! Ele solucionou seu problema!  Mas, surpreendentemente, em minutos o menino voltou com tudo colado, montado perfeitamente.  “Como você fez isto”, pergunta o pai? O menino simplesmente responde:  “ É porque na parte de trás dos países tinha a figura de um homem, eu consertei o homem e o mundo ficou inteiro”. Perfeita ilustração!  Conserta-se o homem  e os filhos serão melhores
Um mundo melhor passa por pessoas melhores.
Uma igreja melhor passa por pessoas melhores.
Um lar melhor passa por pessoas melhores.
A natureza geme porque espera que pessoas melhores assumam o seu controle. Tais pessoas são os Filhos de Deus. E você? É um deles? E seus filhos?

PS. Se você é um pai ou uma mãe que quer melhorar, não desista se seu filho estiver em caminhos errados. Você poderá ser, é e ainda será uma referência para ele. Então, a despeito de qualquer coisa, melhore-se.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ARMADILHAS - RICARDO BARBOSA DE SOUSA

Crescimento das igrejas: três armadilha

Os riscos dessa expansão são invisíveis, mas muito grandes.


 Para mim não é fácil escrever um artigo sobre os perigos do crescimento das igrejas. Primeiro, porque nunca fui pastor de uma igreja numerosa. Não sei o que isso significa. Segundo, porque a realidade que envolve o crescimento de uma igreja é sempre muito complexa. Espera-se que uma igreja saudável – que ensina a Palavra de Deus, evangeliza e faz discípulos de Cristo ¬– cresça numericamente.

Porém, a saúde e a fidelidade de uma igreja podem levá-la a crescer e ser relevante, bem como a sofrer e ser marginalizada. No entanto, como o crescimento e a visibilidade das igrejas despertam grande interesse e o status decorrente é muito sedutor – o que não acontece quando o que está em jogo é o sofrimento, a marginalidade e o martírio –, gostaria de refletir sobre os riscos, ou quem sabe, sobre os ídolos, que o crescimento numérico das igrejas pode apresentar.

A preocupação com o crescimento da igreja é legítima e necessária. Sempre foi. O desafio dessa expansão envolve afirmar a prioridade da missão, a centralidade do evangelho, a necessidade de falar para os de fora, bem como o esforço para ser relevante no contexto social e cultural, no estabelecimento de alvos objetivos, na importância de estratégias e no uso correto das ferramentas sociais e tecnológicas.

Embora esta preocupação com o crescimento seja percebida em toda a história cristã, as mudanças sociais das últimas décadas trouxeram novas realidades, que precisam ser analisadas criticamente. Há três décadas, a preocupação dos evangélicos era com a missão integral e a luta por transformação política e social. A preocupação hoje é com a igreja local, seu crescimento, e sua presença na sociedade. Antes o foco estava na esfera pública; agora, na esfera privada da vida comunitária. Antes a palavra de ordem era "revolução", hoje é "relevância".

A busca por uma igreja relevante abre portas para um novo mundo, trazendo novos desafios e possibilidades. Por outro lado, abre brechas para o risco de a igreja se comprometer, muitas vezes sem perceber, com o espírito desta era. Modernizar e inovar não são um problema em si. Porém, é preciso olhar criticamente para a forma como se faz a busca por relevância e de que maneira se lança mão dos recursos modernos de crescimento. É necessário discernir os riscos que tais ações representam para o futuro do cristianismo.

A expressão "crescimento" pode ser compreendida em termos quantitativos (número de membros, orçamento, projetos) e qualitativo (maturidade, caráter, profundidade). Ambos são importantes, e um não exclui, necessariamente, o outro. No entanto, o crescimento quantitativo nem sempre promove um crescimento qualitativo, mas sempre desperta um fascínio em função da visibilidade e do prestígio que uma grande igreja proporciona para seus líderes e membros. É aqui que enfrentamos um grave risco: o de se construir a casa (igreja) sobre a areia e não sobre a rocha, segundo a parábola de Jesus.

CARACTERÍSTICAS DAS IGREJAS QUE CRESCEM

As igrejas que mais crescem possuem, pelo menos, três características comuns: uso intenso de modernas ferramentas tecnológicas, forte liderança pessoal e uma poderosa marca institucional. É claro que existem outras características, mas quero me deter nestas três e refletir sobre os riscos que elas representam para o futuro da igreja.

A revolução tecnológica da segunda metade do século 20 e deste início de século 21 mudou o cenário religioso. A busca pela excelência funcional e por uma comunicação eficiente ocupa o topo das prioridades de muitas igrejas. Possuímos tecnologia para um bom planejamento estratégico, música de excelente qualidade, projetos de crescimento eficientes.

O problema é que a tecnologia tem o poder de substituir aquilo que Deus faz por aquilo que é feito pelo homem. Vivemos o risco de um perigo semelhante ao que Paulo percebeu na igreja de Éfeso, cujos crentes, segundo o apóstolo, tinham aparência de piedade e no entanto lhe negavam o poder. Ter uma boa música, não nos torna, necessariamente, adoradores. Um bom planejamento estratégico não tem o poder de transformar mentes e corações. Projetos eficientes não fazem de nós verdadeiros discípulos de Cristo.

Igreja bem estruturada não é sinônimo de comunhão. A crítica à Igreja de Laodicéia é de que ela era rica e abastada e não precisava de coisa alguma. Inclusive de Deus. A tecnologia vem se tornando um substituto para a fé. Mas essa eficiência não substitui o poder transformador do evangelho. Precisamos perguntar: é possível discernir o que Deus está fazendo? O primeiro risco que a igreja enfrenta hoje é o da negação de Deus. Não a negação de sua existência, mas do seu poder.

Uma segunda característica comum é a forte liderança pessoal. A liderança forte, bem como a tecnologia, em si, não constitui um problema. O risco está naquilo que nem sempre é percebido. Se a tecnologia traz o risco de uma igreja sem Deus, a liderança forte traz o risco de uma igreja sem netos ou bisnetos. Hoje, o que mais atrai os fiéis a uma igreja, além de sua funcionalidade, é o carisma de seu líder.

Ao ser perguntado pela igreja que frequenta, a resposta mais comum é "a igreja de fulano de tal". Essa liderança confere uma posição de destaque ao membro desta igreja. A pergunta é: igrejas assim sobreviverão à uma segunda ou terceira geração? Sobreviverão depois que seus grandes líderes saírem de cena? Sabemos que algumas megaigrejas na América do Norte entraram em rápido declínio na segunda geração de líderes.

O velho problema da igreja de Corinto se repete: uns são de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro e alguns chegam a dizer que são de Cristo. O personalismo intensifica o narcisismo, que muda o objeto da adoração. Tanto na política como na igreja, a figura forte de um líder compromete o futuro. Vive-se um apogeu glorioso seguido por um rápido vazio e declínio.

A terceira característica é a forte marca institucional, que a torna atraente. Aqui vejo dois perigos. O primeiro diz respeito à busca por relevância. Porém, o que precisa ser relevante, a igreja (instituição) ou o evangelho de Cristo? É possível ser relevante e, ao mesmo tempo, comprometido com a verdade? Sem o evangelho e sem a verdade, qualquer esforço para ser relevante se mostrará, cedo ou tarde, totalmente irrelevante. A imagem que Paulo usa é a do tesouro em vasos de barro.

Não é o evangelho de Cristo que desperta o interesse de muitos para a igreja hoje, mas a própria igreja com seus métodos, programas, música e tecnologia. Isso não é necessariamente ruim. Nem sempre as pessoas serão atraídas pelos motivos mais nobres. O problema é que o vaso vai se transformando não só na porta de entrada, mas num fim em si mesmo. Quanto mais atenção se dá ao vaso, menor valor terá o evangelho.

O outro perigo é a perda da consciência de ser povo de Deus, Corpo de Jesus Cristo. Algumas igrejas que crescem rapidamente atraem uma quantidade considerável de cristãos frustrados com suas igrejas de origem, que ali chegam como a última alternativa institucional de sua jornada cristã. Envolvem-se com paixão, adquirindo uma forte identidade com aquele grupo em particular. O problema é que não são mais capazes de se verem como parte do povo de Deus em uma determinada região ou cidade, mas apenas como povo de Deus de uma igreja particular. É a negação do "povo de Deus" e a afirmação perigosa de uma elite religiosa superior.

CUIDADOS NO CRESCIMENTO

O desafio do movimento moderno de crescimento de igrejas requer alguns cuidados. O primeiro é o de preservar Deus como Deus na igreja. A tecnologia pode nos ajudar em muitas coisas, mas não transforma o coração e a mente caída do ser humano. Só seremos relevantes enquanto permanecermos envolvidos pelo que é eterno. Podemos usar os recursos modernos, mas precisamos nos assegurar que o que virá pela frente serão vidas transformadas pelo poder do evangelho de Jesus Cristo e não consumidores de programas e entretenimento religiosos.

O segundo cuidado é reconhecer a virtude da humildade. O testemunho de João Batista era: convém que ele cresça e que eu diminua. Este deve ser o espírito de qualquer líder. Jesus advertiu seus discípulos em relação ao risco do poder quando disse que entre os grandes e poderosos deste mundo, o maior manda nos menores. No entanto, disse ele, entre vocês não será assim. Quando a admiração por um líder diminui a devoção a Cristo, é sinal de que o espírito desta era já nos capturou.

O terceiro cuidado é compreender que fomos batizados num corpo. Somos o povo de propriedade exclusiva de Deus. Adoramos a Deus em uma comunidade local – grande ou pequena –, mas o Deus que adoramos fez uma aliança com seu povo do qual somos parte. O precioso tesouro foi confiado a um vaso de barro. Seja este vaso grande e inovador, ou pequeno e discreto, o que importa é o tesouro confiado a ele, sempre. Se a relevância pertencer ao vaso, o tesouro será negado à humanidade. É o Corpo de Cristo, todo ele, que revela a glória do cabeça da Igreja.

Os riscos do crescimento são invisíveis, mas muito grandes. Construir uma casa sobre a areia sempre foi uma opção atraente e sedutora. Mas formar discípulos fiéis e obedientes de Jesus Cristo, ensiná-los a guardarem seus mandamentos e obedecê-los, integrá-los em uma comunidade de adoração e serviço sacrificial, sempre foi uma tarefa difícil, lenta e trabalhosa.

Porém, quando vierem as tempestades e os vendavais testando o valor da fé, esta igreja, edificada sobre a rocha, testemunhará a glória da verdade redentora de Jesus Cristo.


 Revista Cristianismo Hoje


terça-feira, 19 de novembro de 2013

OUTRO DESABAFO - ED RENÉ KIVITZ


A Arte do Como Fazer - Paulo Cilas

      

Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensara.   Mt 6.3,4
Esse texto traz o espírito de como fazer as coisas certas e boas:

-Quando você for fazer o bem não exija que os outros façam a mesma coisa. Simplesmente faça o que você propôs em seu coração fazer. Não perca tempo criticando o que não teve a mesma ideia sua.
-Se você evita vícios, lugares que pensa ser impróprios e algumas outras práticas, não resmungue contra aqueles que não têm o mesmo posicionamento seu; você correrá o risco de se achar muito melhor que os demais (soberba é o pecado nascido no coração de Satanás).
-Se você se dedicar à oração não passe a dizer que os outros não são espirituais; simplesmente ore. Ore em secreto por aqueles que precisam. Não faça alarde quanto aos seus jejuns e horas de joelhos. Não queira ser visto pelos outros. Deus não te levará em consideração!
-Há muitos que, por terem sido traumatizados ou alimentaram vícios, acabam por se tornar radicais quando as mesmas coisas se dão na vida de outros.  Deixam de ser testemunhas de Jesus para serem juízes de todo o mundo.
-Lembre-se: a tua história é a tua historia, os teus traumas são os teus traumas. E, principalmente,nunca é por força nem por violência. Dê tempo e seja misericordioso como você teve tempo de receber misericórdia e ir se tratando ao longo da lida.
 -Faça o bem a si mesmo e aos outros em vez de remoer as destemperanças que os outros nos provocam . Não deixe a raiva te consumir.
-Enxergue os que nos cercam com compaixão, ternura, amor. Dê ao mundo a chance de conhecer o AMOR, o amor de Jesus! Nada como um pouquinho de cada vez. Cada um de nós, mudando a nós mesmos. Modificando nossas ações. Enfim, aprendendo a viver e fazer o bem..


A Graça Impactante de Cristo - Brennan manning


Através do espantoso mistério da Encarnação, este mesmo Jesus está presente para aqueles que estão presos em meio a uma crise, para os que sofrem de enfermidades ou vícios debilitantes, para aqueles que vagueiam pelas florestas escuras da depressão do desespero e do medo aterrador. Com uma compaixão que não conhece fronteiras nem limites de resistência, Ele surpreende aqueles que estão presos pelo amor ao prazer, capturados pelo orgulho atroz ou consumidos pela ganância voraz apresentando-se  a eles em um relance de introspecção, revelando repentinamente que suas vidas são nada mais que um borrão sem sentido e caótico de energias mal direcionadas e pensamento defeituosos.
     O Salvador que nos liberta do medo do Pai e do desamor por nós mesmo, anima os derrotados através da descoberta dolorosa de que nossos esforços para nos desembaraçarmos das desordens de nossas vidas são contraditórios em si mesmos, pois a fonte dessas desordens é o nosso próprio ego arrogante. Bufar de raiva, brigar por migalhas e nos fatigarmos por tentar consertar a nós mesmos é um exercício inútil. Jesus espera que as tentativas cessem e em seguida envia um discípulo até à alma esgotada a fim de revelar-lhe o impactante significado da graça.
     O Teólogo Roberto Barron escreveu: “Ele é o Deus de coração partido que cura os corações partidos da humanidade. Jesus de Nazaré é a soma de todas as coisas pelas quais temos esperado desde o Éden”.
     Discursando sobre o extraordinário impacto da pessoa de Jesus na cultura e nas artes, Barron prossegue: “Jesus é retratado de forma amorosa pelos pintores Bizantinos, pelos artistas das catacumbas, pelos escultores da Idade Média, por Giotto, Leonardo, Michelângelo, Caravaggio, Rubens, Rembrandt, Manet, Picasso e Chagall. Sua sombra se projeta sobre as obras de Dostoievski, Hemingway, Melville, Eliot e Graham Greene. Sua cruz   ̶  é o símbolo dominante e mais reconhecido em todo o Ocidente. Jesus é absolutamente inevitável. Nossa linguagem, comportamento, atitude, perspectiva, aspirações, temores e sensibilidade moral, tudo foi indelevelmente marcado por Sua mente e coração”.



quarta-feira, 30 de outubro de 2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

NOS CONHECEMOS? PAULO CILAS

Hb.4.14-16: "Agora, que já sabemos o que temos - Jesus, esse grande Sacerdote Principal com acesso imediato a Deus - não podemos perdê-lo jamais. Não temos um sacerdote que não conhece nossa realidade. Ele experimentou fraqueza e provações  e experimentou tudo,menos o pecado. Portanto, vamos andar direito e receber o que ele tem para nos dar. Recebam a misericórdia, aceitem ajuda."  Da Bíblia A Mensagem

Jesus nos conhece, mas nós nos conhecemos? Tenho uma filosofia que digo ser de porta de botequim: Pior que perder uma agulha é não saber onde ela está! Uma agulha ( costura) custa só alguns centavos portanto perdê-la não é problema. Agora, não saber onde ela está  é, sim, um grande problema. Você não senta em paz. Deitar então nem pensar não é mesmo?
Assim também sofremos mais do que deveríamos e causamos danos  a nós e aos outros. Em " O pior homem de Hitler" está relatada a história de um sujeito que não se aceitando em suas deficiências para ser um soldado aproveitou o emprego numa fábrica para transformá-la no primeiro campo de extermínio de judeus, que serviria de modelo para os demais campos. Toda raiva e frustração ele alocou para a bajulação de superiores e maus tratos aos subalternos, reservando aos inimigos a frieza da execução em massa.
Jesus nos aceitou em nossas fraquezas mas, nós nos aceitamos?
Desenvolvemos síndromes:


                                   Do cachorro atrás do carro- Perseguimos algo e quando alcançamos não sabemos o que fazer. Eternos insatisfeitos.
     
                                   Do carro velho - Sempre com problema, sempre sendo empurrado.

                                   Das campinas mais verdes - Ló foi parar em Sodoma, vizinha de Gomorra. Só                                             cobiça travestida de "qualidade de vida".

A nossa grande libertação se dá primeiro não pela busca da perfeição e, sim, pela aceitação de nossas fraquezas.

Pior do que ter um problema é não saber o que o originou. E nós... muitas vezes não queremos saber.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Maldição hereditária, ou consequência de pecados pessoais? - Por Rev. Ewerton B. Tokashiki


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Há alguns anos o meio evangélico têm se contaminado com uma perniciosa doutrina. Este ensino diz que: "apesar de você ter Jesus como o seu Salvador, e ser salvo, é possível que existam maldições hereditárias, ou seja, maldições por causa dos pecados de algum antepassado que não tenham sido perdoados, e que conseqüentemente, ainda recaem sobre a sua vida". Então, com esta doutrina se conclui que "por isso, você não é abençoado, não prosperá, e por causa disso você tem doenças e males que não consegue se livrar, apesar de ser salvo". Usam como base bíblica, geralmente, a passagem em que Deus declara que "visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem" (Êx 20:5). A Bíblia mal interpretada é a mãe das heresias! Esta ameaça pronunciada por Deus se refere aos que não eram salvos, e permaneciam na idolatria, desprezando ao único Deus vivo e verdadeiro. O Senhor não está declarando que apesar de convertidos Ele ainda assim persistirá em amaldiçoar por causa dos pecados dos pais! A maldição é para aqueles que aborrecem ao Senhor, e não sobre os que o amam; porque sobre os que amam o Senhor, a misericórdia perdurará até mil gerações! (Keil & Delitzsch, Biblical Commentary on the Old Testament, pp. 117-118).

É verdade que alguns textos nas Escrituras declaram que o pecado dos pais têm influência sobre a vida dos seus filhos (Lv 26:39; Is 55:7; Jr 16:11; Dn 9:16; Am 7:17). Mas, isto deve ser bem entendido, pois não é uma referência à maldição hereditária, mas à persistência dos filhos de não abandonar os pecados dos pais. Sendo fiéis ao contexto histórico de toda a narrativa, perceberemos que estas passagens são exortações ao arrependimento, porque a punição era por pecados que tiveram origem nos pais, ou antepassados mais remotos, mas eram pecados ainda perpetuados e praticados por eles mesmos. Nisto percebemos que o cultivo duma cultura familiar corrompida por vícios, idolatria e imoralidades, pecados que são cometidos em família, ensinados pelos pais aos filhos trará a ausência das bençãos pactuais de Deus, mas, cada um será responsável por si, e enquanto não houver verdadeiro arrependimento não haverá transformação.

Desde o Antigo Testamento esta ideia se fazia presente no meio do povo de Israel. O profeta Ezequiel denuncia o pecado do povo por acreditar "que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?" (Ez 18:2). Entretanto, após a repreensão segue a instrução do Senhor dizendo: "tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá (Ez 18:3-4). A argumentação do profeta continua em todo o contexto posterior, deixando bem claro que cada um é responsável pelos seus próprios pecados, e não será o filho punido por causa do pai, nem o pai por causa do filho (versos 5-22).

Os discípulos de Cristo necessitaram ser corrigidos deste erro. Numa certa ocasião encontraram um jovem cego de nascença, e questionaram: "mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9:2). A redundante resposta de Jesus fechou o assunto, ao dizer que: "nem ele pecou, nem os seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus" (vs. 3). Os males físicos e temporais são instrumentos da providência de Deus, para que a Sua glória se manifeste no meio do Seu povo escolhido, e assim, a Sua vontade se torne conhecida (Jo 9:35-39; Rm 8:28).

Quando os verdadeiros crentes caem em pecado, mesmo pecados graves e escandalosos, eles não são abandonados por Deus. Deus nunca desiste deles (Rm 8:31-39). Como um Pai restaura os seus filhos, os disciplina “porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos”(Hb 12:6, ARA). O apóstolo Paulo afirma esta mesma verdade dizendo que “quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo” (1 Co 11:32). É possível cair em pecado, mas é impossível cair da graça de Deus. O teólogo inglês J.I. Packer declara que "às vezes, os regenerados apostatam e caem em grave pecado. Mas nisto eles agem fora de seu caráter, violentam sua própria nova natureza e fazem-se profundamente miseráveis, até que finalmente buscam e encontram sua restauração à vida de retidão. Ao rever sua falta, ela lhes parece ter sido loucura."[Teologia Concisa, p. 224]. O pecado é corrigido individualmente.

Como individualmente pecamos, também somos chamados ao arrependimento! Não posso me arrepender por outra pessoa; entretanto, devo interceder por ela, se ela estiver viva. Não é possível pedir perdão pelos pecados dos meus filhos, nem irmãos, pais, avós ou qualquer outro antepassado. Pecado é confessado, e somente é perdoado pessoalmente. A Bíblia diz que as bençãos da Aliança acompanharão os nossos filhos, pois eles são filhos da promessa. Se você é filho de Deus, você é co-herdeiro com Cristo Jesus do amor de Deus (Rm 8:16-17), e esta é uma promessa para os seus filhos (At 2:39). Mas a Palavra de Deus não ensina que os nossos pecados serão cobrados dos nossos descendentes. Deus haveria de puni-los por uma irresponsabilidade nossa? A doutrina da maldição hereditária nega tanto a suficiência de Cristo, em perdoar graciosamente os nossos pecados, como a fidelidade de Deus em cumprir as Suas promessas.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

DEUS NÃO DEIXA NINGUÉM IMPUNE - PAULO CILAS

Perplexos assistimos o esforço ( de advogados e magistrados) para absolvição dos mensaleiros. Quanta filigrama pró réu. Quantos direitos à defesa.
No mundo todo observamos interesses escusos sendo defendidos sob a égide da legalidade, soberania nacional, religião. Ao final o que se quer mesmo é o de sempre: poder, riqueza etc. Aliás, alguém já disse que pior do que fazer o errado é fazer o "certo" com a intenção errada.
A Bíblia apresenta vários "ais"como alerta contra a impunidade: Ai dos poderosos e quem com eles se ajunta contra o direito dos desfavorecidos. Ai dos que zombam de Deus. Ai dos que expõe o nome do Senhor à ignomínia. Ai dos que falam o que O Senhor não mandou falar. Ai dos que acrescentam ou subtraem o que já está escrito e determinado. Ai de quem cair sobre o evangelho e ai de sobre quem o evangelho cair, vira pó.
"Ai de nós que vamos perecendo".
Se não fosse Jesus...!
"Aquele que nem a seu próprio filho poupou...!" Pois é, ai de Jesus que tomou meu lugar. Ai Dele que quis se tornar carne igual a mim. Ai do escorraçado, cuspido, dito endemoniado por se levantar contra os "santos líderes" do povo eleito.  Ai Dele que ousou andar em "más companhias" para restaurá-las. Pagou com sangue e foi"abandonado" pelo Pai. Pois O Pai não deixa ninguém impune.
Ai de mim se negligenciar tão grande salvação.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VIOLÊNCIA PERTO DE NÓS - OSMAR LUDOVICO


Jesus Cristo escolheu morrer a nossa morte, identificando-se conosco na dor.
A nóticia do jornal foi lacônica: jovem de dezoito anos assassinado a tiros. Não foi o único homicídio na cidade naquele dia. Houve quatro ocorrências do mesmo tipo. A diferença é que eu conhecia aquele jovem. Compartilhei com ele o Evangelho, recebi-o em minha casa e o encaminhei a uma igreja. Bom menino, doce e meigo – mas, infelizmente, tinha se envolvido com drogas.

No Brasil, morrem cerca de 40 mil pessoas assassinadas por ano. A maioria são jovens moradores de grandes centros urbanos, vítimas de uma violência perversa e inconsequente. Morrem em brigas, acertos de contas, através de balas perdidas ou em confrontos com a polícia. A gente sabe disso, mas fica assustada quando acontece perto da gente. E se pergunta o que está acontecendo.
Deus, em certas abordagens atuais, parece já não ser tão relevante. E, quando aparece no discurso, a conversa é acomodada para não ferir a sensibilidade dos adeptos. Não se fala de pecado, de arrependimento, de juízo. Mandamentos, valores e crenças, outrora absolutos, são flexibilizados. Tudo é diluído para manter o projeto religioso, muitas vezes comandado por líderes que contam cabeças, mas não olham nos olhos.
Na sociedade civil, vemos a deterioração da família. O casamento já não é mais para toda vida, e as paixões iniciais não resistem ao teste da vida real no quotidiano. Filhos crescem sem os pais; a escola não forma cidadãos. Tudo tem seu preço, tudo está à venda, e o valor pessoal está nos símbolos de consumo e de status. A competição é feroz, pois construímos um mundo onde não cabem todos e muitos serão excluídos. O poder público dá mau exemplo: na corrupção e na impunidade.
O cenário internacional também não ajuda. Vivemos uma crise econômica que afeta muitos, resultante da ganância perniciosa de poucos. A perspectiva é de recessão e desemprego. Nesse cenário, nossos jovens se perdem, sem valores, sem esperança, sem ideais.
Cheguei arrasado ao cemitério. Fui um dos primeiros, e o menino estava só na capela, arrumado e florido do jeito que foi possível, pois recebera muitos tiros, inclusive no rosto. Um sentimento de derrota tomou conta do meu coração. Sentei-me ao seu lado. Eu sabia que teria que falar algo na hora do sepultamento e fiquei ali, orando e vendo as pessoas chegarem. A mãe, que esteve sempre ao seu lado; o pai, que veio de longe. Alguns amigos – gente jovem, estudantes em sua maioria; alguns adultos amigos dos pais do morto, que olhavam assustados para outros jovens, de bermudão, camisa colorida, gorro enterrado na cabeça.
Chegou a hora de falar. E eu ali, pensando: "Que vou dizer?" Respirei fundo e orei. Comecei a falar do meu coração e a partir da minha própria perplexidade. Dirigi-me especialmente aos pais. Sim, vamos invocar a Deus, pois sem ele não dá para enfrentar um momento desses. Mas, afinal, onde está Deus numa hora dessas? Lembrei-me de que Deus chora diante da morte. Cristo chorou quando seu amigo Lázaro morreu. E chorou também no Getsêmani, angustiado frente à sua própria morte. Lembrei-me de Deus, o Pai, e seu coração dilacerado, sem intervir na hora do assassinato de seu filho de trinta anos. Sim, Deus sofre com nossas mortes: ele se importa e chora. Há lágrimas de lamento e luto no céu.
Diante da sacralidade daquele momento, percebi que Jesus Cristo estava entre nós. E estava! Ele escolheu morrer a nossa morte, identificando-se conosco na dor, na tortura. Escolheu morrer uma morte cruel nas mãos de uma liderança religiosa corrupta e forças militares de ocupação perversas.
Ao morrer, ele retorna à vida e ressuscita no terceiro dia. Naquela hora do domingo, Deus dá sua resposta definitiva: o mal, a morte, o pecado e o demônio não têm a última palavra. A última palavra é dele; a vida triunfa sobre a morte!
Lembrei-me que aquele menino tinha ouvido o Evangelho e dava sinais de mudança em sua vida. E que, certamente, o Senhor teria misericórdia dele e o ressuscitará no último dia para vida eterna com ele. Fechamos então o caixão e fomos em procissão, seguindo um carro funerário até o local do sepultamento. Ao longo daqueles passos, fui renovando minha esperança.
Sepultamos o menino. E eu voltei para casa sentindo dores no corpo, como se tivesse levado uma surra. E, no fundo do meu coração, fiz um voto de continuar lutando pelo respeito à vida, envolvendo-me em ações que minimizem o mal e promovam os valores do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

AMAR A QUEM NÃO ME AMA - BRÁULIA RIBEIRO




Eu estaria mentindo se dissesse que depois que me tornei cristã nunca mais tive problemas, desamores, desilusões, que nunca mais experimentei traições. Estaria mentindo se dissesse que as instituições cristãs melhores ou mais nobres do que as não cristãs. Estaria mentindo se dissesse que de dentro do seu círculo de amigos e irmãos mais próximos você não precisa esperar facadas nas costas, abraços falsos, ou simplesmente distâncias doloridas e inexplicáveis.

Nestes anos todos de campo missionário pude conviver com o que há de melhor e mais nobre na natureza humana. Vi e vivi o auto-sacrifício, o despojamento, o amor de entregar a vida uns pelos outros. Mas vi também o que há de ruim, de sórdido e de mais mesquinho. Vi egoísmo, batalhas de poder, amarguras marcadas a fogo em corações, armas de guerra religiosa lustradas constantemente por teologias falsas, desamor puro e simples.

Na minha própria jornada, apesar das decepções pessoais vivi o engano de achar que tudo estava perdoado. Quando pregava ou ouvia sobre o perdão, pensava: “Ah sou catedrática nisto! Perdoei a todos o que me feriram…” Tive até a oportunidade de fazer o “bem” a irmãos que não me foram tão honestos. Me sentia orgulhosa: “Esta área não é problema pra mim”.

Foi quando alguém me perguntou: – Você ora pelos que te feriram? E se ora, ora como?

Não oro, tive que admitir. Tenho coisas mais importantes pra fazer, me enganei. Mas a misericórdia do Senhor não me deixou. – O que é mais importante Braulia do que amar quem não te ama? Se leio a Bíblia direito tenho que admitir que não existe nada mais básico, mais fundamental na fé cristã. Se queremos habitar n’Ele, compartilhar da natureza de amor de Deus a primeira coisa que temos que fazer é aprender a amar. Não sabemos amar, assim como não sabemos muita coisa na nossa vida de fé. A fé é um aprendizado racional do se “ser como Deus.” – Como aprender a viver sua natureza meu Senhor? – “Aprenda a amar.

Foi assim que comecei como um sedentário fazendo exercício físico pela primeira vez: – Quero orar pelo Fulano, Senhor. Abençoe-o. Mas se abençoar significa encher de graça de amor, de provisão financeira, se significa desejar para ele a mesma felicidade que desejo para mim e para os que amo, ah então não sei não…

A palavra: abençoe – se enrosca, se torna pesada. O que meu coração deseja é “justiça” mas não na definição divina, vertical que nos chega através da misericórdia. Quero a “justiça” entre aspas, melhor traduzida como vingança. Quero árvores secas, alforges vazios, quero para eles a solidão que me assolapa, quero o mesmo fracasso que me faz chorar amargo.

Meu estado interior se revela a mim como o de Isaías se revelou a ele diante do trono de Deus. Como minha fé é pequena, limitada, egoísta, empapelada de desculpas bíblicas para odiar, para me vingar, para excluir, para isolar. Choro agora, não por eles, mas por mim. Como este Deus vai me perdoar? E se Ele resolver cumprir sua palavra e perdoar-me apenas na proporção com que eu perdôo?

Recomeço, insistente. Para orar pelo que não me ama, tenho que primeiro desenterrá-lo. Me lembro de um conto de Patricia Highsmith que li quando criança: Estranhas mortes na Repartição. O homenzinho trabalhava num escritório do governo, era excêntrico e cobrava das pessoas uma perfeição que tornava impossível a interação social. Terminou por matar uma a uma com requintes de crueldade as pessoas que o cercavam. Mas a autora nos revela que os assassinatos não são reais. O homenzinho se cerca de mortos porque não pode conviver com os vivos.

Orar por meus “mortos” me obrigou a desenterra-los, um a um, com as mãos, sentindo-lhes o cheiro, tocando-lhes a carne. Qdo os desenterro, os coloco de pé, a meu lado e ando com eles até onde Deus está. Ressurretos meus mortos me vigiam. Não é fácil sentir-lhes vivos ali comigo, ouvir-lhes o coração, as rever suas dores, tornar-me uma com eles na oração desejando-lhes o mesmo bem que o Senhor lhes deseja. Ah Senhor, não sei orar.

Tento de novo e as palavras vem, esparsas, gastas, clichés religiosos viciados. E o Senhor me diz: “Não, não é assim que você ora minha filha. Onde está sua paixão, sua intensidade, onde está seu coração íntegro? Oração pela metade não dá. Oração en passant também não funciona. Quando eu levantar a minha mão para encher o outro de bênçãos de amor, quero o seu regozijo sincero. Quero que você se veja como participante daquele momento. Eu vou abençoá-los porque você orou por eles.”

Enfim a oração flui. Honesta. Não são mais os mortos, não são eles, é uma parte mim que ressurge. Volta a vida o meu amor enterrado, a minha esperança, o meu centro. Enfim as lágrimas não são mais amargas e duras. Me alinhei com ele. Posso orar pelo “inimigo”. Posso visualizá-lo recebendo carinhos do Pai de amor, inundado de bondade. Aconteceu o milagre da fé. Voltei a me encontrar em seu amor. Voltei a participar de sua natureza de amor. Até o próximo tropeço no meu egoísmo.



sábado, 31 de agosto de 2013

IGREJA-GINCANA - MANOEL dC

IGREJA-GINCANA: Não quero jamais pertencer a essa igreja!


MANOEL dC


Ocorre à minha mente, que a sociedade é como uma grande gincana onde seus membros competem até à axaustão, culminando em alguns poucos “gatos pingados” que serão reconhecidos e premiados no final, para logo serem esquecidos e abandonados.

Desde muito cedo entramos no mundo competitivo, em um clima de concorrência além dos limites que conseguimos suportar. Isso acontece no jardim de infância, no colégio, na faculdade, na especialização, nos esportes, nos relacionamentos, na música e em todos os espaços da vida.

O mundo em que vivemos produz uma cultura opressiva, que extrai de nós multifacetados sentimentos ruins, o medo inconsciente de perder, e a ansiedade de não correspondermos às suas pressões e exigências inatingíveis de estética, fama, capacidade, competência e habilidade.

Delineia-se nitidamnte em nós o medo de não sermos reconhecidos, de não nos sentir plenamente adequados aos padrões impostos. Recrudesce impetuosamente esse sentimento latente de não sermos valorizados o suficiente pelo que fizemos, por mais que nos esforcemos para fazer o melhor, sempre aflora o medo de não sermos, no meio do qual estamos inseridos, o suficientemente capazes, engraçados, populares, ricos, interessantes, inteligentes, cultos, espirituosos, magros, musculosos, chiques, etc.

Não percebemos nem de longe o quanto somos marionetados por poderosos fios invísiveis que “querem fazer nossa cabeça” a qualquer preço.

A gigantesca mola propulsora dessa engrenagem chama-se consumismo. O consumismo por sua vez é retroalimentado pela força irresistível da propaganda que nos teleguia para comprar e obter mais e mais, apetrechos eletrônicos e bugingangas tecnológicas que jamais precisaremos e que, no fim das contas, não vão somar nem acrescentar nada de útil à vida.

PIOR QUE TUDO ISSO, É QUANDO ESSES CONCEITOS ESCOAM SUTILMENTE PELAS BRECHAS ABERTAS NA IGREJA E SE INSTALAM NO SEU MODO DE SER, SÓ QUE REVESTIDOS DAS MAIS SUBLIMES CAPAS DE ESPIRITUALIDADE, E COM RÓTULOS ATRATIVOS PINTADOS DA MAIS PURA SANTIDADE.

Entramos na igreja pensando em amar cada vez mais nosso querido Mestre, em crescer cada vez mais no relacionamento com Jesus e com os irmãos, em nos tornar cada vez mais livres dos vícios e pecados que nos escravizavam, mas quão cedo nos decepcionamos!

Porque é na igreja que vemos o imperativo do ter e poder, sobrepujando o simplesmente ser.

É na igreja que desmascaramos lobos vorazes disfarçados de ovelhas santificadas.

É na igreja que vemos proliferar como praga as ervas daninhas da fofoca, da maledicência e da suspeita.

É na igreja que vemos também existir a mesma concorrência asquerosa que existe na sociedade lá fora, “irmãos” competindo com “irmãos”, uns atropelando os outros, na conquista de mais reconhecimento e aplausos.

É na igreja onde a gincana é mais acirrada, no afã de se alcançar o prêmio de maior espiritualidade,de se ter maior quantidade de dons (principalmente aqueles que aparecem e promovem espetáculo).

É nessa Igreja-Gincana, que se vê a concorrência desigual por obter status perante a liderança, o desespero de irmãos que frequëntam vigílias com o intuito de serem vistos com mais “poder do alto”, no mais alto padrão de legalismo asfixiante.

Infelizmente ainda existem outras gicanas instituídas mais , como a corrida de saco de quem prega mais, a torta na cara de quem evangeliza mais, o futebol de sabão de quem ora mais, a briga de galo por obter mais discípulos aos quais possa mandar mais, a guerra de travesseiros de quem tem mais grupos, e a caça ao tesouro de quem tem a igreja maior, mais poderosa e mais rica.

E quem são os possíveis ganhadores dessa Igreja-Gincana? Certamente aqueles que se queixam de ser “filhos do Rei”, que reinvidicam “diante do trono” não terem nenhum tipo de crise, doença ou decréscimo financeiro, mas que também são os que mais vestem o disfarce da hipocrisia oficializada.

É por essa razão que muitos crentes/jogadores dessa Igreja-Gincana se cansam e ficam prostrados pelo caminho afora. São os que se sentem lesados, enganados, roubados, desclassificados e perdedores. São pessoas preciosas aos olhos de Deus que ficaram queimadas e agora remoem todo tipo de desilusão, fracasso e decepção.

Esses soldados feridos deixados pelo caminho, são os milhões de “crentes desviados” (é assim que a Igreja-Gincana os considera) e que se tornaram totalmente refratários a qualquer tipo de religiosidade que lembre, mesmo de forma distante, a igreja da qual saíram.

De onde menos se espera, é de onde se propaga com força de mandamento a venda de imagem. Nesse tipo de igreja, ao modo da sociedade, somos exigidos a sermos bonitos, bem vestidos (no mais requintado modelo burguês americano e europeu), espirituais, inerrantes (se só se suspeitar que pisou na bola, você está frito!), e mais enquadrados na visão de competição e concorrência conforme o mundo , não o Evangelho de Cristo.

NA VERDADE, A MAIORIA DAS IGREJAS DESSA GERAÇÃO PARECE QUE ESQUECEU DA VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE SEGUNDO O EVANGELHO DE CRISTO.

O Evangelho de Cristo que desmantela de uma vez para sempre esse arremedo de igreja, a Igreja Competidora, a Igreja-Gincana, para erguer do meio dos escombros, a Igreja da Liberdade Consciente, que como Jesus, abraça com entusiasmado carinho os segundos, terceiros e enésimos lugares, e que vai gerar o exercício pleno da individualidade e desembocar na multiforme diversidade de dons, habilidades, caras, modos, jeitos, estilos e mentes, fruto da multiforme graça de Deus, tudo isso a serviço do mundo!

Termino aqui, lembrando do hino antigo que dizia:

“NÃO É DOS FORTES A VITÓRIA, NEM DOS QUE CORREM MELHOR;
MAS DOS FIÉS E SINCEROS QUE SEGUEM JUNTO AO SENHOR!




terça-feira, 27 de agosto de 2013

PRISÕES QUE NÃO POSSUEM GRADES - CARLOS MOREIRA

Prisões que não Possuem Grades






“Memórias do Cárcere” é uma obra póstuma de Graciliano Ramos publicada em 1953. Preso na época do “Estado Novo” sob a falsa acusação de ligação com o Partido Comunista, o escritor foi deportado para o Rio de Janeiro, onde permaneceu encarcerado por cerca de dois anos. 


No livro, Graciliano se ocupou em tornar público, “depois de muita hesitação”, acontecimentos da vida na prisão. Escrito dez anos após sua libertação, trás em si uma narrativa amarga, não obstante verdadeira. “Quem dormiu no chão deve lembra-se disto... Escreverá talvez asperezas, mas é delas que a vida é feita: inútil negá-las, contorná-las, envolvê-las em gaze” 

Já li comentários de que pessoas que foram presas, sobretudo injustamente, jamais voltam a ser as mesmas. O cerceamento da liberdade trás impactos tão violentos a psique que o indivíduo não consegue mais se reencontrar com sua essência, impõe-se a um auto-exílio rumo aos porões do ser, acaba soterrado sob densas camadas de sombras e silêncios.

Eu sei que há prisões que possuem grades, e destas é muito difícil escapar. Mas há outros tipos de prisões, que vão para além de impor ao corpo a reclusão ao cubículo ao qual foi confinado. Sim, estas masmorras são imateriais, sem grades, sem paredes, são calabouços que aprisionam não só à vontade, o desejo de liberdade, mas o ser, a alma, a consciência, a paixão e os sonhos.  

É fato que tenho encontrado, no chão da vida, muitas pessoas aprisionadas em tais “labirintos”. É gente que, sem perceber, tornou-se refém de circunstâncias, medos, traumas, sofismas, projeções, “carmas”, manipulações, culpas, vícios psicológicos, e toda sorte de situação que produz auto-engano e que acaba dando forma a uma imagem distorcida de si mesmo, a qual, projetada na “tela da existência”, reproduz um holograma monstrificado de quem enganosamente se pensa ser.

Em meus aconselhamentos pastorais, tenho me deparado com pessoas vivenciando tais dinâmicas. É gente que se tornou refém de marido, de mulher, de sogra, de filhos, tudo pelo estabelecimento de vínculos afetivos adoecidos, que acabam dando ao outro uma espécie de “licença para matar”, e, por assim dizer, produzem, pela via da culpa e do medo, todo tipo de escravidão e subserviência.

Há aqueles que estão presos a fatalismos e determinismos infundados, não raro fruto de comentários maldosos e recorrentes feitos por pessoas próximas, muitos dos quais se enraizaram na “alma” desde a infância. É gente que se sente “assombrada” por um “carma”, conduzida inexoravelmente por um trilho de onde não se pode sair, fadada a parar sempre na mesma “estação”, seguir sempre pelo mesmo caminho.

Também é comum encontrar os que se viciaram psicologicamente no fracasso, que sentem prazer na perda, no sonho frustrado, nas impossibilidades. Trata-se da negatividade alçada ao platô mais profundo do ser, gente cinzenta, sombria, que vive de olhar pelo “retrovisor”, lamentando pelo que passou, ansiando pelo que poderia ter sido, mas não foi...

Não menos danoso é o grupo dos que passaram a viver de uma espécie de “ração”, que esmolam da vida, se acomodaram em ser o que não são, estagnaram a consciência e amordaçaram o pensamento. Pessoas assim deixaram de acreditar no novo, na mudança, em possibilidades outras. Elas se acostumaram à mesmice, ao banal, ao trivial, seguem o fluxo, o curso, a rotina. Estão mortas, mas ainda não foram sepultadas, existem sem ser, sem saber vão, de arrastão em arrastão, vivem de “migalha de pão”, dos restos do ontem e dos fragmentos do hoje.

Finalmente, mas não menos triste, há os que adoeceram ao ponto de dependerem de medicação para viver, os chamados psicotrópicos, os quais se aplicam a distúrbios e doenças tais como ansiedade, depressão nervosa, distúrbio bipolar, psicose, pânico, dentre outras. Neste estágio há muita dor e desânimo, pois além dos sintomas próprios de cada doença, ainda há os efeitos colaterais dos remédios, tão diversos quanto possamos imaginar. Eles, sem pedir permissão, mudam as pessoas: alteram o olhar, o sorriso, os gestos, gostos, apetites e vontades.

Seria pieguismo e irresponsabilidade de minha parte dizer para você que a solução para todas estas coisas está na religião. Tolice afirmar que apenas reunião de oração, jejum e leitura da bíblia vão resolver o problema. Muito menos bizarrices do tipo: sessão do descarrego, culto de “libertação”, de “unção”, do "desencapetamento" total e outras mandingas do meio “evangélico” vão "liberar a benção". Estas reuniões estão mais para seções espíritas e são destinadas a curar todo e qualquer problema como fossem a “Água Rabelo”, um antigo remédio que se usava para tratar desde verminose até tuberculose. Não, eu não creio que seja assim.

Mas acredito que a cura passa pela experimentação da verdade, ou, como disse Tolstoi: “não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma conseqüência”. Eu creio que a maior parte dos problemas e dores humanas estão associados a não percepção da Verdade, e aqui afirmo Verdade não como paradigma existencial, mas como Caminho a ser caminhado, como experimentação de valores e princípios que mudam o ser, de dentro para fora, aos poucos, pela via da pacificação produzida pela Graça, em Fé e através do Amor, pela ação do Espírito Santo que é capaz de realizar aquilo que nada nem ninguém pode fazer em definitivo: sarar a alma! Sim, pois como disse Jesus: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

Estou convencido de que há prisões que não possuem grades, mas que aprisionam muito mais do que aquelas que prendem os indivíduos, posto que é mais fácil libertar o corpo do que a alma. Como disse em texto recente “...eu não sei qual foi a porta que eu abri mas, quando dei por mim, já estava aqui! Curioso, também, é que eu não sei como sair; as portas daqui só possuem maçanetas pelo lado de fora! Aqui é todo canto e lugar nenhum”.

Gostaria de te ver livre desta prisão, destas amarras que prendem tua mente, tua alma, teu ser. Sei que só Deus pode te livrar disto tudo, mas esta experiência tem de ser vivida por cada um, a seu tempo e do seu próprio modo. Fiques, então, com o que escreveu Clarice Lispector: “liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”.



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

EM UM MUNDO MELHOR - LUIZ FELIPE PONDÉ

Luiz Felipe Pondé, na Folha de S.Paulo

É possível um mundo melhor? Sim e não. Sim, é possível um mundo melhor a começar por melhores remédios, casas, escolas, hospitais, aviões, democracia (ainda acredito nela, apesar de ficar de bode às vezes).
Não, não é possível um mundo melhor porque algumas coisas não mudam, como o caráter humano, suas mentiras e vaidades, sua violência, mesmo que travestida de civilidade, nossas inseguranças, nossa miséria física e mental, nossa hipocrisia. Nossas ambivalências sem cura. Os valores são incomensuráveis. Você até pode achar que na vida vale mais a pena “ser” do que “ter”, mas isso pode ser apenas um modo infantil de ver as coisas: não há “ser” sem o “ter” que sustenta tudo.
A famosa frase “que vão os anéis e fiquem os dedos” às vezes mais parece ser bem o contrário, “que vão dedos e fiquem os anéis”, porque os diamantes são eternos, e os dedos, não.
Resumindo: mesmo a tecnologia e a ciência, grandes fatores positivos, podem ser elas mesmas terríveis. Não é outro o sentido de se perguntar “como educar depois de Auschwitz?”, como se pergunta o filósofo Theodor Adorno. Mesmo a democracia pode virar coisa de “black blocs” ou demagogos que juram confiar na “sabedoria popular”. E isso dá bode.
Recentemente revi o filme “Em um Mundo Melhor”, de Susanne Bier, de 2010. Trata-se de um filme bastante didático, bom para escolas. Um médico sueco trabalha em algum lugar infeliz da África, enquanto sua família derrete na Dinamarca onde mora.
Seu filho é objeto de bullying (chamam-no de “rato” pelo dentes feios que tem e esvaziam o pneu da sua bicicleta o tempo todo). Ele nunca reage. É tímido e tem medo dos mais fortes. Sabe que se reagisse apanharia mais. Muitas vezes, a essência da coragem é perder o medo de sofrer além do que já se sofre. A verdade da coragem não é querer vencer, mas perder o medo de perder tudo que se tem.
Escolas de crianças são um escândalo. Um depósito de violência de todo tipo. Um lugar especialmente indicado se quisermos duvidar da existência de Deus usando o famoso argumento a partir do mal (“argument from evil”, como dizem os filósofos da religião americanos): se Deus existe e é bom e todo-poderoso, como o mundo pode ser mau como obviamente é?
Há todo tipo de resposta para isso, e elas compõem o que em teologia se chama “teodiceia”. Qual é o sentido de ser bom na vida? Há garantias de que o bem compensa? Não, não há, nenhuma.
Eu concordo com o filósofo Isaiah Berlin: não há teodiceia possível. Os valores são incomensuráveis entre culturas, pessoas, épocas históricas. Qualquer utopia não passa de um surto infantil projetado sobre o mundo. Não vai mais longe do que uma história de Branca de Neve.
Voltando ao filme. O médico é contra violência física. E vive isso de modo corajoso, não se pode negar. A vida que leva na África é prova de seu caráter. Enfrenta um sujeito que bate na sua cara na Dinamarca, quando está visitando sua mulher e filhos, de modo digno, revelando a estupidez que está por trás do brutamontes idiota.
Ela quer o divórcio porque se sente sozinha, é óbvio, e, aparentemente, além de deixá-la sozinha, ele andou comendo alguém por aí… Santo, mas nem tanto… Você pode salvar o mundo enterrando sua família. Olha aí a incomensurabilidade de que fala Berlin.
Ao final, seu princípio de não violência é testado na África e ele perceberá que para tudo existe um basta, e às vezes a violência é tudo que resta. Os pacifistas são também gente infantil.
Mas onde está esse mundo melhor no filme? A vida em casa degringola. O filho humilhado encontra um amigo que o protege na escola. Um menino corajoso, decidido e violento, que se move no mundo de modo oposto aos princípios do médico.
Na verdade, o menino é um desesperado, solitário, que acaba de perder a mãe de câncer, num processo doloroso que sutilmente o filme parece indicar ter chegado à eutanásia.
O mundo melhor parece ser aquele no qual as pessoas podem errar, pedir perdão e ser perdoadas. Um mundo melhor não é um mundo sem violência ou ambivalência, mas um mundo onde existe o perdão.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

CRISTIANISMO JUDAIZANTE - MARCELO LEMOS

Cristianismo Judaizante: nos passos do caranguejo!



Rev. Marcelo Lemos

Antes de ler o artigo veja o vídeo:



O vídeo acima foi gravado a mais de um mês. Mas, se o leitor acha que o “Templo de Salomão” do Bispo Edir Macedo é o único exemplo de apostasia judaizante na igreja brasileiro, leia o artigo a seguir e descubra que não.

Estou viajando, mas entre entrar e sair de Belo Horizonte nas últimas semanas acabei arrumando tempo para visitar um “feira evangélica” na capital mineira. Uma decepção. Misturados a versões bíblicas, chaveiros com temas religiosos e folhetos evangelísticos, encontrei diversos outros artefatos de fazer o estomago embrulhar. Correntinhas da sorte (daquelas de fazer promessa), cajados, espadas e arcas da aliança confeccionadas em plásticos, óleos perfumados com as mais variadas essências, além de trajes para uma tal de “dança litúrgica”. Não fosse pelos materiais genuinamente cristãos expostos em outros boxes, certamente seria possível confundir com uma feira de artigos para macumba.

Por algum motivo, provavelmente explicado pelo sionismo latente na teologia cristã popular de hoje (entenda-se Dispensacionalismo), há uma verdadeira atração por tudo que aparece sob a famosa Estrela de Davi, como se a mesma fosse portadora de algum poder santificante e de autenticação. Assim, se o AT fala de uma Arca da Aliança, os neoevangélicos estão dispostos a se prostrarem diante de sua réplica hoje, bem como estão dispostos a carregarem na carteira réplicas da espada de Gideão, ou do machado de Eliseu. Indo além do próprio Dispensacionalismo, tais “evangélicos” (sic) se sentem mais atraídos pela “sombra” do que pela “realidade”.

Outro dia, por exemplo, observando o diálogo entre dois jovens pregadores pentecostais, notei o grande fascínio que nutriam por expressões hebraicas “cheias de poder” (palavras deles). “Shamah”“Tsidikenu”“Jeova Nissi”, dentre tantas outras. Que há de errado com tais palavras e expressões? Absolutamente nada. A grande questão é que “Jeová Nissi” e “Deus é a minha bandeira” significam a mesma coisa, e não há nada de poderoso em ficar repetindo a mesma ideia em hebraico; a menos, claro, que a pessoa tenha em mente algum tipo de “mantra” - mas aí, já não estamos mais nos domínios da fé cristã. Contudo, pregadores sabem que gritar e repetir tais expressões inúmeras vezes de seus púlpitos, certamente lhes renderá uma pregação “poderosa”, aos olhos de seus ouvintes...

Por uma quase total ignorância da teologia neotestamentária eles alimentam a fantasia de que Deus se comoverá com palavras e símbolos judaicos! Inadvertidamente, acreditam que Deus se alegrará vendo Sua Igreja ignorando o Juízo que Cristo trouxe sobre a Casa de Israel, e com isso, rejeitam os tesouro da Nova Aliança em troca das migalhas da Antiga:

“Disse-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos” (S. Mateus 21. 42,43).

Se Cristo está certo sobre a Igreja ter recebido as chaves do Reino de Deus, qual o sentido de querer aquilo que, segundo Jesus, foi aperfeiçoado pela fé cristã? Será que não ouviríamos hoje a mesma acusação que S. Paulo fez os cristãos da Galácia? “Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado? Só isto quero saber de vós: Foi por obras da lei que recebestes o Espírito, ou pelo ouvir com fé? Sois vós tão insensatos? tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis?” (Galatás 3. 1-3).

Não é de se estranhar, portanto, que a judaização da religião neoevangélica seja capaz de assumir contornos ainda mais assustadores, chegando a ponto de, literalmente, substituir a Fé Cristã por uma versão helenizada da Fé Judaica. Tenho um amigo assembleiano que quase me fez ter um infarte quando disse que estava congregando em uma sinagoga, onde estava aprendendo o quanto os cristãos tinham se afastado da verdadeira religião de Jesus. Já estava prestes a se converter em um gentio-messianico-judaizante! Como ele não nasceu judeu, evidentemente não poderia se tornar judeu messiânico, oras! Por mais que o tenham iludido na tal sinagoga, o máximo que ele poderia vir a ser era um caranguejo estiloso!

Porque, segundo o que nos é dito no Primeiro Concílio da Igreja, registrado em Atos 15, os gentios não precisam se submeter a cultura judaica para seguirem a Cristo. Um gentio que faz isso está andando pra trás, feito caranguejo, e isso faz dele “insensato”, ou tolo, nas palavras de S. Paulo.Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição; e destas coisas fareis bem de vos guardar. Bem vos vá.” (Atos 15. 28,29).

Mas a loucura não tem limites, é com um poço sem fim - depois que se cai nele o Inferno é o limite. Quem assistiu ao filme “Viagem ao Centro da Terra” - adaptação meia-boca do livro homônimo de Júlio Verne – deve se lembrar da cena onde os três personagens “descobrem” o caminho para o centro da Terra. Aqueles três tiveram a sorte encontrar um bom lugar de pouso no fim do buraco, mas o caranguejo normalmente termina na frigideira quando sai de seu habitar natural.

Nesse poço cavado pelos judaizantes tem uma loucura atrás da outra. Mas, vamos deixar as tolices dos neoevangélicos de lado, e aproveitar para dar olhar mais em baixo. Está virando 'modinha' entre alguns o costume de não mais chamar Deus de “Deus”, e Jesus de “Jesus”, além de outras descobertas mirabolantes, daquelas que fariam o Discovery Channel produzir uma minissérie. Porém, ao invés da nova série se chamar “O Astronauta Antigo” o nome seria algo como Em Busca do Jesus Perdido, pois o Jesus que conhecemos hoje foi, senhoras e senhores, uma falsificação do Império Romano. Aliás, se você quer questionar alguma coisa no Cristianismo o caminho mais fácil é botar a culpa num tal de Constantino. Sua tese, só por isso, já ganhará um monte de seguidores, além de render bons dividendos (pergunte aos Adventistas do Sétimo Dia, às Testemunhas de Jeová ou a Dan Brown).

Jesus, meus caros, não tem poder para salvar. Apenas Yahusha salva, como descobriu certo grupo judaizante. Segundo ensinam, o falso nome “Jesus” se estabeleceu através das traduções bíblicas, feitas primeiramente pelos católicos romanos, no que foram seguidos pelos protestantes. Felizmente, hoje temos esses verdadeiros iluminados para nos ensinar a verdade.

Mas, o que falta entre os judaizantes é a tal da unidade. A única coisa que os une é a ideia de que, nós, cristãos, falsificamos o nome do Filho de Deus. E qual é o nome verdadeiro? Uma segunda resposta nos é dada por um grupo chamado “Testemunhas de Yeshôshua” (veja artigo completo sobre eles AQUI). Bem, já temos duas teorias judaízantes, e agora?

Bem, talvez quem salve seja, na verdade, Yeshua, como afirma um grupo intitulado de “Judeus da Unidade”. Segundo seu líder do grupo, o rabino Marcos Andrade Abraão, Roma criou um personagem que pegou emprestado a história do verdadeiro Mashiach”.

O que mais me impressiona é que tais grupos estão conseguindo convencer pessoas que já conhecem o Evangelho. Recebo noticias e questionamentos sobre esses casos de “conversões”, ou melhor, de apostasias. E isso me faz perguntar se a raiz não está justamente na mentalidade mistica-judaizante da qual falei já no inicio deste artigo. Porque, não é verdade que tudo isso tem sua origem na mentalidade de que o cristianismo é apenas uma expressão do judaísmo em sua essência?

Mas, tanto essas seitas quanto os neoevangélicos padecem da mesma ignorância teológica sobre o Novo Testamento. Os judaizantes dentro de nossas comunidades ignoram a teologia neotestamentaria a respeito da Realidade ter aperfeiçoado aquilo que era “sombra”. Os que descem mais fundo na heresia, desconhecem a própria letra do Novo Testamento. Para essas seitas, o argumento principal e que foi batizado com um nome judeu, portanto, aqueles que traduziram seu nome criaram uma falsa religião. E esse argumento é muito sedutor para as pessoas que em sua igreja vivem cercadas por palavras de ordens “judaicas” e símbolos “judaicos”; para elas esse argumento pode ser muito convincente! Tão convincente que muitos estão descendo mais fundo no fosso judaizante, e abandonando suas congregações cristãs.

Alguém pode negar que “Jesus” não é o nome hebraico do Cristo? Evidentemente não! Todos os cristãos sabem disso – se aprende na EBD. Mas, é pecado traduzir o nome de Cristo para outro idioma? Se for pecado, então os apóstolos – que eram todos judeus! - foram os primeiros a cometerem tal sacrilégio, pois nós herdamos deles tal costume. Porque o nome do Salvador é citado pelos Apóstolos mais de 900 vezes no Novo Testamento, e em todos esses casos ele traduzem o nome de Jesus para o idioma grego (IESOUS CRISTOS ) no qual estavam escrevendo.

Será que a falsa religião foi inaugurada já nos dias da Igreja Primitiva? Como podemos sustentar a tese de que a tradução do nome do Filho de Deus é uma abominação, coisa da falsa religião, se a própria Bíblia usa seu nome traduzido para a língua grega? Que apostasia é essa que os apóstolos, homens inspirados por Deus, preferiram seu nome em Grego a suas variantes Yeshôshua ou Yeshua?



Um fato aceito pela maioria esmagadora dos estudiosos do Novo Testamento é que este foi escrito em Grego, com a possível exceção de S. Mateus. Assim, ainda que eu goste muito da Peshita (versão aramaica muito antiga), o fato é que os Apóstolos escreveram a maior parte de seus livros para leitores e ouvintes gentios, que, obviamente, falavam grego. Naqueles dias não havia a Bíblia como a temos hoje. As cartas eram enviadas aos lideres das Igrejas locais, e durante a liturgia eram lidas diante de todos. E uma vez que sabemos que S. Paulo foi enviado como apóstolos dos gentios, parece óbvio supor que lhes falasse em sua própria língua: “Mas é a vós, gentios, que falo; e, porquanto sou apostolo dos gentios...” (Romanos 11.13)“Os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios” (Romanos 16.4)“A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo” (Efésios 3.8).

E, em todos os livros do Novo Testamento, em nenhuma vez encontramos os Apóstolos usando o nome Hebraico ou Aramaico de Jesus. Mas as fábulas judaizantes exercem tanto fascínio sobre os neoevangélicos de nossa geração que essas ideias estão se tornando cada dia mais populares. Nem todos chegaram ainda ao extremo de voltar ao judaísmo, mas muitos o estão fazendo. Nem todos estão se declarando “judeus cristãos”, mas se apegam com toda fé em elementos do judaísmo. Ironia das ironias, os judaizantes foram o grupo herético que mais deram trabalho ao apóstolo S. Paulo, e, ao que parece, eles estão de volta, e com toda força.



Não deixa de ser hilário assistir essas mesmas pessoas ficarem tão nervosas com a visita do Papa Francisco. Ora, deviam ter ataques de nervos lendo os livros de Lutero! 






Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...