segunda-feira, 30 de setembro de 2013

DEUS NÃO DEIXA NINGUÉM IMPUNE - PAULO CILAS

Perplexos assistimos o esforço ( de advogados e magistrados) para absolvição dos mensaleiros. Quanta filigrama pró réu. Quantos direitos à defesa.
No mundo todo observamos interesses escusos sendo defendidos sob a égide da legalidade, soberania nacional, religião. Ao final o que se quer mesmo é o de sempre: poder, riqueza etc. Aliás, alguém já disse que pior do que fazer o errado é fazer o "certo" com a intenção errada.
A Bíblia apresenta vários "ais"como alerta contra a impunidade: Ai dos poderosos e quem com eles se ajunta contra o direito dos desfavorecidos. Ai dos que zombam de Deus. Ai dos que expõe o nome do Senhor à ignomínia. Ai dos que falam o que O Senhor não mandou falar. Ai dos que acrescentam ou subtraem o que já está escrito e determinado. Ai de quem cair sobre o evangelho e ai de sobre quem o evangelho cair, vira pó.
"Ai de nós que vamos perecendo".
Se não fosse Jesus...!
"Aquele que nem a seu próprio filho poupou...!" Pois é, ai de Jesus que tomou meu lugar. Ai Dele que quis se tornar carne igual a mim. Ai do escorraçado, cuspido, dito endemoniado por se levantar contra os "santos líderes" do povo eleito.  Ai Dele que ousou andar em "más companhias" para restaurá-las. Pagou com sangue e foi"abandonado" pelo Pai. Pois O Pai não deixa ninguém impune.
Ai de mim se negligenciar tão grande salvação.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VIOLÊNCIA PERTO DE NÓS - OSMAR LUDOVICO


Jesus Cristo escolheu morrer a nossa morte, identificando-se conosco na dor.
A nóticia do jornal foi lacônica: jovem de dezoito anos assassinado a tiros. Não foi o único homicídio na cidade naquele dia. Houve quatro ocorrências do mesmo tipo. A diferença é que eu conhecia aquele jovem. Compartilhei com ele o Evangelho, recebi-o em minha casa e o encaminhei a uma igreja. Bom menino, doce e meigo – mas, infelizmente, tinha se envolvido com drogas.

No Brasil, morrem cerca de 40 mil pessoas assassinadas por ano. A maioria são jovens moradores de grandes centros urbanos, vítimas de uma violência perversa e inconsequente. Morrem em brigas, acertos de contas, através de balas perdidas ou em confrontos com a polícia. A gente sabe disso, mas fica assustada quando acontece perto da gente. E se pergunta o que está acontecendo.
Deus, em certas abordagens atuais, parece já não ser tão relevante. E, quando aparece no discurso, a conversa é acomodada para não ferir a sensibilidade dos adeptos. Não se fala de pecado, de arrependimento, de juízo. Mandamentos, valores e crenças, outrora absolutos, são flexibilizados. Tudo é diluído para manter o projeto religioso, muitas vezes comandado por líderes que contam cabeças, mas não olham nos olhos.
Na sociedade civil, vemos a deterioração da família. O casamento já não é mais para toda vida, e as paixões iniciais não resistem ao teste da vida real no quotidiano. Filhos crescem sem os pais; a escola não forma cidadãos. Tudo tem seu preço, tudo está à venda, e o valor pessoal está nos símbolos de consumo e de status. A competição é feroz, pois construímos um mundo onde não cabem todos e muitos serão excluídos. O poder público dá mau exemplo: na corrupção e na impunidade.
O cenário internacional também não ajuda. Vivemos uma crise econômica que afeta muitos, resultante da ganância perniciosa de poucos. A perspectiva é de recessão e desemprego. Nesse cenário, nossos jovens se perdem, sem valores, sem esperança, sem ideais.
Cheguei arrasado ao cemitério. Fui um dos primeiros, e o menino estava só na capela, arrumado e florido do jeito que foi possível, pois recebera muitos tiros, inclusive no rosto. Um sentimento de derrota tomou conta do meu coração. Sentei-me ao seu lado. Eu sabia que teria que falar algo na hora do sepultamento e fiquei ali, orando e vendo as pessoas chegarem. A mãe, que esteve sempre ao seu lado; o pai, que veio de longe. Alguns amigos – gente jovem, estudantes em sua maioria; alguns adultos amigos dos pais do morto, que olhavam assustados para outros jovens, de bermudão, camisa colorida, gorro enterrado na cabeça.
Chegou a hora de falar. E eu ali, pensando: "Que vou dizer?" Respirei fundo e orei. Comecei a falar do meu coração e a partir da minha própria perplexidade. Dirigi-me especialmente aos pais. Sim, vamos invocar a Deus, pois sem ele não dá para enfrentar um momento desses. Mas, afinal, onde está Deus numa hora dessas? Lembrei-me de que Deus chora diante da morte. Cristo chorou quando seu amigo Lázaro morreu. E chorou também no Getsêmani, angustiado frente à sua própria morte. Lembrei-me de Deus, o Pai, e seu coração dilacerado, sem intervir na hora do assassinato de seu filho de trinta anos. Sim, Deus sofre com nossas mortes: ele se importa e chora. Há lágrimas de lamento e luto no céu.
Diante da sacralidade daquele momento, percebi que Jesus Cristo estava entre nós. E estava! Ele escolheu morrer a nossa morte, identificando-se conosco na dor, na tortura. Escolheu morrer uma morte cruel nas mãos de uma liderança religiosa corrupta e forças militares de ocupação perversas.
Ao morrer, ele retorna à vida e ressuscita no terceiro dia. Naquela hora do domingo, Deus dá sua resposta definitiva: o mal, a morte, o pecado e o demônio não têm a última palavra. A última palavra é dele; a vida triunfa sobre a morte!
Lembrei-me que aquele menino tinha ouvido o Evangelho e dava sinais de mudança em sua vida. E que, certamente, o Senhor teria misericórdia dele e o ressuscitará no último dia para vida eterna com ele. Fechamos então o caixão e fomos em procissão, seguindo um carro funerário até o local do sepultamento. Ao longo daqueles passos, fui renovando minha esperança.
Sepultamos o menino. E eu voltei para casa sentindo dores no corpo, como se tivesse levado uma surra. E, no fundo do meu coração, fiz um voto de continuar lutando pelo respeito à vida, envolvendo-me em ações que minimizem o mal e promovam os valores do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

AMAR A QUEM NÃO ME AMA - BRÁULIA RIBEIRO




Eu estaria mentindo se dissesse que depois que me tornei cristã nunca mais tive problemas, desamores, desilusões, que nunca mais experimentei traições. Estaria mentindo se dissesse que as instituições cristãs melhores ou mais nobres do que as não cristãs. Estaria mentindo se dissesse que de dentro do seu círculo de amigos e irmãos mais próximos você não precisa esperar facadas nas costas, abraços falsos, ou simplesmente distâncias doloridas e inexplicáveis.

Nestes anos todos de campo missionário pude conviver com o que há de melhor e mais nobre na natureza humana. Vi e vivi o auto-sacrifício, o despojamento, o amor de entregar a vida uns pelos outros. Mas vi também o que há de ruim, de sórdido e de mais mesquinho. Vi egoísmo, batalhas de poder, amarguras marcadas a fogo em corações, armas de guerra religiosa lustradas constantemente por teologias falsas, desamor puro e simples.

Na minha própria jornada, apesar das decepções pessoais vivi o engano de achar que tudo estava perdoado. Quando pregava ou ouvia sobre o perdão, pensava: “Ah sou catedrática nisto! Perdoei a todos o que me feriram…” Tive até a oportunidade de fazer o “bem” a irmãos que não me foram tão honestos. Me sentia orgulhosa: “Esta área não é problema pra mim”.

Foi quando alguém me perguntou: – Você ora pelos que te feriram? E se ora, ora como?

Não oro, tive que admitir. Tenho coisas mais importantes pra fazer, me enganei. Mas a misericórdia do Senhor não me deixou. – O que é mais importante Braulia do que amar quem não te ama? Se leio a Bíblia direito tenho que admitir que não existe nada mais básico, mais fundamental na fé cristã. Se queremos habitar n’Ele, compartilhar da natureza de amor de Deus a primeira coisa que temos que fazer é aprender a amar. Não sabemos amar, assim como não sabemos muita coisa na nossa vida de fé. A fé é um aprendizado racional do se “ser como Deus.” – Como aprender a viver sua natureza meu Senhor? – “Aprenda a amar.

Foi assim que comecei como um sedentário fazendo exercício físico pela primeira vez: – Quero orar pelo Fulano, Senhor. Abençoe-o. Mas se abençoar significa encher de graça de amor, de provisão financeira, se significa desejar para ele a mesma felicidade que desejo para mim e para os que amo, ah então não sei não…

A palavra: abençoe – se enrosca, se torna pesada. O que meu coração deseja é “justiça” mas não na definição divina, vertical que nos chega através da misericórdia. Quero a “justiça” entre aspas, melhor traduzida como vingança. Quero árvores secas, alforges vazios, quero para eles a solidão que me assolapa, quero o mesmo fracasso que me faz chorar amargo.

Meu estado interior se revela a mim como o de Isaías se revelou a ele diante do trono de Deus. Como minha fé é pequena, limitada, egoísta, empapelada de desculpas bíblicas para odiar, para me vingar, para excluir, para isolar. Choro agora, não por eles, mas por mim. Como este Deus vai me perdoar? E se Ele resolver cumprir sua palavra e perdoar-me apenas na proporção com que eu perdôo?

Recomeço, insistente. Para orar pelo que não me ama, tenho que primeiro desenterrá-lo. Me lembro de um conto de Patricia Highsmith que li quando criança: Estranhas mortes na Repartição. O homenzinho trabalhava num escritório do governo, era excêntrico e cobrava das pessoas uma perfeição que tornava impossível a interação social. Terminou por matar uma a uma com requintes de crueldade as pessoas que o cercavam. Mas a autora nos revela que os assassinatos não são reais. O homenzinho se cerca de mortos porque não pode conviver com os vivos.

Orar por meus “mortos” me obrigou a desenterra-los, um a um, com as mãos, sentindo-lhes o cheiro, tocando-lhes a carne. Qdo os desenterro, os coloco de pé, a meu lado e ando com eles até onde Deus está. Ressurretos meus mortos me vigiam. Não é fácil sentir-lhes vivos ali comigo, ouvir-lhes o coração, as rever suas dores, tornar-me uma com eles na oração desejando-lhes o mesmo bem que o Senhor lhes deseja. Ah Senhor, não sei orar.

Tento de novo e as palavras vem, esparsas, gastas, clichés religiosos viciados. E o Senhor me diz: “Não, não é assim que você ora minha filha. Onde está sua paixão, sua intensidade, onde está seu coração íntegro? Oração pela metade não dá. Oração en passant também não funciona. Quando eu levantar a minha mão para encher o outro de bênçãos de amor, quero o seu regozijo sincero. Quero que você se veja como participante daquele momento. Eu vou abençoá-los porque você orou por eles.”

Enfim a oração flui. Honesta. Não são mais os mortos, não são eles, é uma parte mim que ressurge. Volta a vida o meu amor enterrado, a minha esperança, o meu centro. Enfim as lágrimas não são mais amargas e duras. Me alinhei com ele. Posso orar pelo “inimigo”. Posso visualizá-lo recebendo carinhos do Pai de amor, inundado de bondade. Aconteceu o milagre da fé. Voltei a me encontrar em seu amor. Voltei a participar de sua natureza de amor. Até o próximo tropeço no meu egoísmo.



Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...